quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Fazer o que? Sobre o fundamentalismo de mercado e projetos abertos do centro à esquerda

     O processo eleitoral no Brasil teve seu finados no dia 26 de outubro. A vitória de Dilma Roussef, uma força oriunda de u paralelogramo onde se encontraram programs sociais vitoriosos, resultados econômicos e sociais efetivos, a emergência de cidadãos e cidadãs renovados e, porque não, a uma agenda de centro-esquerda que triunfou. A derrota das forças conservadoras, cuja principal bandeira estava fixa na defesa de  ideias econômicos dos anos 1990 e uma pauta lacerdista dos anos 1950, produziu uma situação onde a direita acredita ter "vencido" perdendo e a esquerda ter "perdido"vencendo. Descontando a mera retórica vazia e as palavras agradáveis aos seus, trata-se de um exercício para um público-alvo bem definido: a massa de eleitores que teriam apoiado a pauta do "mar de lama" e de um neoliberalismo ressurreto. Uma parte dessa massa, facilmente visível como branca, urbana, oriunda das camadas médias superiores, muitos com curso superior, ao lado da fina flor do neoconservadorismo de Bolsonaros ou da direita religiosa, passou a contaminar as ruas e as redes com seu veneno golpista. Aqui está um monstro que despertou, mesmo sem força para disseminar suas sandices ao ponto da ruptura institucional, se maior fosse não hesitaria em apoiar soluções autoritárias.
     O partido que perdeu as eleições, e seu candidato que insiste em manter seu palanque armado, levou no mínimo uma semana para reagir à nau dos insensatos. Antes promoveu a mais ridícula das iniciativas: pedido de auditoria sobre as eleições, mesmo dizendo que não "desconfiava"de nada. A imprensa, sempre ela, não produziu nenhuma condenação firme. Ao lado disso, carros com adesivo de Dilma foram atacados, com registros no Rio, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte. Ataques ao nordeste espalharam-se pela TV paga, a internet e em cartazes ofensivos. A semana entre o dia 27/10 e 2/11 foi pródiga em racismo, preconceito, proto-fascismo e assemelhados. Pode ter sido produto do clima de guerra instalado, pode ter sido resultado da disputa, mas foi um resultado muito desagradável. Em parte foi para "azedar" a vitória, mas em parte foi alimentada para uma declaração de guerra permanente. Na mesma semana, o Congresso, presidido por um peemedebista derrotado, mesquinhamente colocou em votação projeto contrário ao Planalto. Um dos piores elementos que povoam o PMDB deseja ser presidente da Câmara. Em seu retorno à Casa, o limítrofe senador carioca-mineiro e seu palanque garante oposiçao sem tréguas. Desejaria muito ver como esse senhor, que pouco lá vai e que nada produz, reagirá quando tiver sua "liderança" roubada pelo PSDB de São Paulo. 
    Neste quadro nebuloso, plúmbeo (diria Jânio), Dilma iniciará seu novo mandato. As forças golpistas, patéticas e limitrofes, voltarão para o buraco de onde saíram até serem novamente convocadas pela nova direita. Nova e não tão nova. Escrevendo no Tweeter, Xico Graziano, quadro importante do PSDB, insurgiu-se contra o proto-fascismo, incentivado pelo PSDB e sua longa demora em condenar comportamentos assim, escrevendo que eles deixem o PSDB que é de estirpe social-democrata. Pausa para rir. Acredito na sinceridade de Graziano, mas onde se encontra a social-democracia de seu partido é um mistério insondável. Tradicionalmente, nunca foi de base operária ou sindical; quando pode abraçou a "novo centro" da terceira via ignorando as pautas de esquerda associadas às organizações sindicais, da sociedade civil e dos direitos de cidadania; encontrou uma justificativa para inserir-se passivamente na globalização e na financeirização e promoveu o desmonte do Estado como prática e uma política econômica cara ao tripé econômico (metas de inflação, câmbio flutuante, rigidez fiscal) como a única saída. Enfim, a social-democracia é um projeto da esquerda do pós-guerra, não uma agremiação para promover o neoliberalismo tupiniquim. O PSDB não é isso, poderia ter sido e nunca foi.
     O problema é que o PT também não melhorou muito sua pauta de esquerda. Em volta de um programa econômico mais conservador, foi necessária uma crise politica e uma crise econômica internacional para que se verificasse alguma mudança. Tal como antes, na eleição de 2010, agora foi o chamado àqueles que acreditam nesse programa de mudança que alteraram os rumos eleitorais. Lula e Dilma não foram eleitos para continuar a obra de Fernando Henrique, seria melhor, então, votar em Serra e Aécio. A mensagem talvez tenha sido entendida ... ou talvez não.
     Mas, porque o clima de apocalipse a direita? Por que o resultado não pode ser aceito por uma parte da sociedade? O envenenamento foi tão forte? Foi, e a direita é respons;avel pela maior desinformação da história recente, confundindo conceitos e preconceitos. senão vejamos:
1 - "bolivarianismo', Cuba e Venezuela. Malgrado toda a descortesia com países amigos, esta discussão é de uma estultice sem fim. É necessário ser mau-caráter, oligóide ou desinformado para comparar países dessa forma, com tal onda de informações incorretas, sem a menor compreensão das diferenças institucionais e desrespeito à história de cada um. Por isso má-fé ou incompetência cognitiva. Sinceramente, a Venezuela até confirmação de mandato tem; Cuba é um regome fechado cercado por um bloqueio econômico e nós somos a sociedade mais completa social e economicamente da América Latina. Sério mesmo que ministro do STF dá entrevista falando em corte bolivarianista? Entendo a preferência partidária do Ministro, mas está ficando um pouco descarado demais.
2 - Ameaça comunista. Como é? Recomendo uma conversa com "camaradas" do PCdoB, do PCB, do PCO, do PSTU. Vejam o nível de apoio, organização e recursos das siglas, como eles lideram a revolução eminente. E todos devem servir ao PT, o grande líder comunista A não ser que exista um comitê revolucionário leninista clandestino que recebe dinheiro de Cuba (mas como? Eles não tem nem para si) ou da Coreia do Norte. Pode ser também da terrível China, o distrito industrial do mundo - para o capitalismo - que pretende implantar aqui uma ditadura para vender seus produtos "comunistas" ao mundo livre (por falar em retórica da guerra fria).
3 - A ameaça de grupos sociais - como homossexuais, ateus, promotoras de ataques à família e defensores das drogas. Sério? Ameaça a quem? 
      Trata-se, na melhor das hipóteses, do fechamento do discurso, do universo da locução, do espaço dialógico. É o fechamento da esfera pública e da construção de outro projeto - alternativo - e associado. É possível se render ao discurso fácil do esgotamento dos partidos e organizações, das gramáticas da modernidade, da necessidade de outros foros. Mas, supondo-se que a pletora de discursos teóricos possa ter razão e outra coisa fosse construída, os projetos não se organizariam? Simples assim: na gramática analítica que leva em conta as políticas públicas, ideologia e orientações não existem projetos distintos? Existem, e a história recente na Europa, por exemplo, é esse o ponto. Todo  o sistema politico recente fecha-se em torno de alternativas de políticas para o mercado. A oposição está em luta constante na parte "de baixo"da sociedade, nos migrantes, nos "occupy", nas passeatas, mas também está no avanço da direita. O que ocorre no Brasil não é isolado, nem fecha-se em nossas fronteiras. A América Latina tem dilemas semelhantes. A Ásia enfrenta crises de maneira diferente. A desigualdade aumentou no centro do capitalismo; nós lutamos desesperadamente para reduzí-la. Nos EUA, a direita, como o "tea party", nem sequer deseja vencer eleições presidenciais: prefere interditar qualquer mudança em nível da sociedade civil.
     Aqui como lá há um conjunto de intelectuais, de uma estirpe especial, que insiste em revestir sua ideologia como ciência: os economistas de mercado, masters of the universe,  senhores das planilhas e herdeiros da verdade revelada. Só existe uma forma, um jeito e uma vida; o mundo é meritocrático; políticas sociais são socialismo disfarçado, a ciência matemática dos modelos econométricos é o evangelho do conhecimento; equilíbrio fiscal, inflação muito baixa, câmbio que flutue, capitais livres, mais mercado e nada de Estado são os versículos do credo. Sua visão de mundo é uma planilha e sua fé o mercado e seus resultados, medidos pelas bolsas, os lucros das transnacionais e a abertura da conta capital e das barreiras tarifárias. É isso, principalmente isso, que representa um dos projetos, que mesmo afastado de aplicação integral com a derrota de Aécio no Brasil insiste em emparedar a presidente eleita com seu fundamentalismo de falsa erudição.
     Então, a "nova política" exige outras instituições e organizações? Outra narrativa? Muito bem. Mas a narrativa dos mercados continuará lá, independente de outras narrativas políticas. A oposição a este fundamentalismo precisa continuar a construir seu campo. O compromisso da agenda neoliberal com a democracia é inexistente, como comprovam experiências asiáticas ou o Chile. Cegos por Hayek ou Mses, acham que mercado é a única garantia da democracia e, como em gerla ocorre, são ignorantes em hisatória. No Brasil, os corifeus da direita são os economistas de mercado, as lideranças lacerdistas e os desesperados conservadores que preferem que a desigualdade persista. Quando Thatcher, de infeliz memória, bradava que "there is not alternative" e era saudada pelo pregão da bolsa, o mote do partido conservador não era apenas neoliberalismo, era também conservadorismo de costumes. Quando Reagan fundou a "reagnomics", os EUA viveram uma "revolução conservadora", cujos traços persistem até hoje. 
     Não trata-se de uma dicotomia nós x eles nem uma oposição simples de projetos. Quem possui um projeto unitário é justamente esta nova direita. Do outro lado existem socialistas, social-democratas, ecologistas, conservadores não neoliberais. Pessoas que não estão organizadas, mas desconfiam do mercado e seus sujeitos históricos totais. A esquerda foi tratada como fundamentalista e, após a derrota do comunismo realmente existente foi para a defensiva, mesmo aquela que rejeitava a vida soviética. Pois bem: o fundamentalismo voltou, exatamente pelo mercado. As seitas econométricas e as regras de governança corporativa confiável, que arrastaram o mundo para uma crise sem fim desde 2008, continuam suas diatribes. O eleitorado vota contra elas, aqui e na Europa, e não adianta? Estamos condenados a jogar nas regras do adversário? Não há um projeto único do lado oposto ao mercado, quem te a certeza metafísica da história são os defensores da ideologia de planilha e de mercado. É hora de construir outra coalizão. é hora, por exemplo, de mais G20, de mais acordos sul-sul, de mais integração de vizinhança, de lidar com sustentabilidade em relação ao crescimento e emprego, de incentivar políticas que dinamizem a produção, que penetrem fundo em direção aos serviços sociais universais, que combata o rentismo puro e simples. Não há uma ideologia do centro à esquerda que monopolize esta agenda. O campo liberal definiu suas armas e seus generais, centrou força em seu fundamentalismo e se organiza. Isto aparece em seus inflamados discursos, disfarça-se de moralismo, alia-se aos reacionários. O preço é o mundo corporativo dirigindo os rumos da nação. Se as forças do centro a esquerda permanecerem conferindo a esta agenda a predominância, sem utilizar a força politica da democracia em seu favor, o que nos restará? Em quatro anos outra candidatura que se afastará das ruas? Pode ser, mas cada vez mais fraca e cada vez mais sem um programa. 
      Não trata-se de unir o campo, fundar um partido, unificar lutas. Trata-se de pensar como enfrentar o pior inimigo da liberdade, de uma vida social mais justa, para combater desigualdades e melhorar a vida das pessoas. O campo fundamentalista preocupa-se com o acionista. É hora de nos preocuparmos com o cidadão. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Sobre o processo eleitoral de 2014 - um resumo executivo e o sumário de politicas futuras

     No dia 25 de outubro eu completei 50 anos. Sou parte da geração que começou seu ciclo de vida em 1964, ano terribilis de vergonha e crime, onde cresci e, ao ingressar no ensino médio tomei consciência de um desejo de mudar que nunca mais me deixou. Cursei a universidade pública ao fim da ditadura, uma mão apodrecida pela quebra da pouca legitimidade que tenha construído e por uma crise econômica sem fim. Ali comecei a militar, filiado ao PT em 1985, onde fiquei até 1993 formalmente. Nunca deixei integralmente de me aproximar de suas bandeiras e de seu programa. Sofri na noite fria de abril de 1985 quando a emenda Dante de Oliveira foi rejeitada, onde a mão podre da ditadura resolver oferecer seu canto de cisne com o general Newton Cruz e a camarilha do Planalto. Como quase todo o Brasil foi emocionante assistir a eleição de 1989, mesmo na doída derrota, e presenciar, ao vivo , o grande comício da Candelária, com Lula e Brizola contra o Aécio de então, um rapaz chamado Fernando Collor. Daí para a frente assistimos a ascensão da década terrível de 1990, com suas reformas anti-populares, a inserção passiva do Brasil na globalização sob comando do norte e da China, as privatizações, a compra da reeleição, a pasta rosa, o SIVAN, o rentismo desenfreado (alguém imagina uma taxa de juros de 45%?) e, sim, o controle da inflação. Essa foi a vitória do governo Cardoso e a causa última das suas duas vitórias presidenciais, as quais de outra forma não conseguiria. O fim do ciclo de hiperinflação foi um poderoso ganho político que se manifesta até hoje, uma vitória, sim, da população, inegável. Mas o conjunto da obra é por demais sofrível"desemprego alto, crescimento baixo, patrimônio público vendido e recursos obtidos para a redução da dívida pública (sem obter sucesso diante dos formidáveis juros), a renegociação da dívida dos estados com indexador problemático, enfraquecimento dos bancos públicos, desmonte da infraestrutura, ausência de políticas setoriais, restrições fiscais, política externa ligada aos interesses do centro do capitalismo. O fracasso do segundo mandato de Fernando Henrique abriu a janela de  oportunidade para o PT. 
     E Lula venceu, para nossa imensa alegria. Passei quase a noite em claro, tinha viajado quase 600 km para votar no primeiro e no segundo turno, de Campinas a Minas. Pensei: hora, votei todas as vezes, agora não vou participar e ajudar com meu voto para que todos vençam? Vim, votei e ajudei a vencer. Os dois primeiros anos foram terríveis: a dupla Fazenda/BC, Palocci as frente, parecia desmontar as bandeiras do partido e aceitar as regras herdadas; foram anos com pouco resultado. Confesso a desilusão. Em seguida o episódio que terminaria na ação penal 470, o esquema que manchou a história do partido em nome da governabilidade e, mesmo que todos os partidos a pratiquem de olho no caixa 2, não se justifica. Aqui houve uma virada: o PT passou a conviver com essa mancha, mas o governo mudou. Programs se expandiram, o Bolsa-Família começou a ganhar corpo, o funcionalismo começou a ser recomposto, obras de investimento público aumentaram, o crédito se ampliou, os bancos públicos ampliaram seu papel, políticas setoriais, como a industrial, retornou, a desigualdade cedeu (ainda falta muito, mas cedeu), o emprego aumentou - e muito - com carteira, assim como políticas como a valorização do salário mínimo e da previdência tiveram efeito positivo. E Lula triunfou de novo. E conseguiu um mandato ainda mais forte, contrariando o senso comum. Em meio a tudo isso, a pior crise no capitalismo desde 29, aquela que os assessores econômicos de Aécio, hoje, dizem que foi localizada. e "já passou". O enfrentamento neo-keynesiano da crise nos livrou do pior, e segurou nossos indicadores de forma muito menos artificial que o real na reeleição de Fernando Henrique. desse triunfo e dos nossos indicadores gerais garantiu-se o futuro imediato. O significado desse mandato de Lula foi tão forte que ajudou a eleger uma ministra que parecia ter poucas chances, não fosse a força do presidente e a compreensão sobre a continuidade de seu governo. E Dilma venceu e continuou.
     Neste período de 12 anos houve problemas. O debate em torno da corrupção, malgrado o governo incentivar mais operacões policiais, processar mais gente, recuperar mais dinheiro para o erário, incrementar a AGU e seus controles, aumentou e a imprensa, que preocupou-se pouco em investigar e mais em repercutir denúncias, fez o seu papel para a classe média. A oposição adotou a guerrilha do dia a dia, multiplicada pela grande imprensa. A ação penal 470 foi julgada no meio do mandato de Dilma, e durante o processo eleitoral da campanha para as prefeituras. Ali, seu efeito foi muito pouco, até Fernando Haddad ganhou a prefeitura de SP, mas seu efeito de longo prazo estava dado.  Desta eleição o PSB surgiu forte e o PSDB não tanto assim. Em 2013, sem eleição as ruas explodiram em junho: contra partidos, organizações, insatisfeitas com o sistema político e a corrupção, foi protagonizada uma colorida reação dos setores médios, muitos emergentes, e que estavam diante do "transbordamento"de suas demandas. E agora? As reações tímidas da política de Brasília não os convenceram, a mídia passou a tratar dos vândalos, a criminalização das ruas não veio da esquerda, mas das forças de sempre da reação: a direita e seu par de mídia. Vibraram com ataques ao governo, não entediam que era também contra eles. Quando entenderam, o rótulo: vândalos. Suas reivindicações  espalharam-se pela vida pública, algumas poucas atendidas, outras dificuldadas pela própria explosão do movimento. A nova política, como alguns gostam de chamar, não buscava interlocutores nas instituições. E  o movimento recrudesceu
     Dilma chegou ao momento de sua reeleição enfraquecida por anos de denúncias e ataques acirrados e ácidos da imprensa e dos rentistas, dos economistas cuja visão de mundo é uma planilha, das forças conservadoras que desejavam a volta dos anos 90 e de desafios novos como o ex-aliado Eduardo Campos que desejou alçar voo próprio. Junto a isso, Marina Silva, que com notável incompetência não conseguiu dirigir a criação de um partido, adere ao PSB e torna-se vice de Campos. As forças da regresso já haviam escolhido seu candidato: o limítrofe, fraco, sem liderança e neto de Tancredo Neves (sua melhor credencial), para espantar do poder a fonte do mal, da corrupção e da falta de crescimento representado pelo PT. Seu mote: mudança. Para onde? Os anos 90. Seu ministro? Arminio Fraga- dos anos 90 e especulador internacional. Sua campanha: pela família, a propriedade e contra a corrupção, com discursos paralelos anti-Cuba, anti-venezuela, parecendo retornar à década de 60 com ares de Carlos Lacerda, a Marcha da Família. A candidatura da direita e da mídia foi atropelada por Marina Silva, que trazia um recall do passado e ares de novidade. Em três semanas desmoronou diante do PT e do PSDB que, sem dó, apresentaram uma candidata fraca, titubeante, sem capacidade para decidir, confusa em economia e na agenda social e sem sua origem ideológica - o ambientalismo. Misturado a um messianismo preocupante e com apoios conservadores ainda mais estranhos, sucumbiu à politica ao ponto de não exercer influência alguma no segundo turno.
     Que fazem as forças da reação? Voltam-se, de novo, para Aécio. E o país assiste ao seu crescimento, ao fim do primeiro turno, terminado em segundo. Na virada para o segundo turno, conforme crível, fez a "tesoura", assumindo a ponta. Não, não foi suficiente. Ele não abriu. Neste momento, a política voltou. Sem deslanchar, Dilma colocou em ação uma formidável máquina de marketing e debate político que desnudou o governo pífio de Aécio em Minas, sua incapacidade em mostrar algo novo, sua inconsistência, seu discurso enviesado sobre corrupção (sempre são os outros), sua censura à imprensa de Minas e até sua agressividade com mulheres e sua intimidade com aeroportos inúteis. Aquilo e preciso lembrar os números. Eles parecem ter passado o segundo turno quase todo em empate técnico, com o crescimento decisivo de Dilma entre a segunda e terceira semana de campanha. Aécio se recuperou um pouco ao final. 
     A vitória de Dilma por 3,3% - eu mesmo acreditei em algo entre 4% e 5% - traduz uma divisão forte no país. Esta divisão reflete a adesão do eleitorado a projetos distintos, mas há também uma artificilaidade. A grosseria da campanha, me perdoem, mas muito mais da classe média ressentida (a antiga e até parte da "nova"), da mídia insufladora, de setores corporativos insatisfeitos (vários médicos, p.ex.), de parte do capital produtivo e de todo o rentismo - fora o apoio "indispensável de Roger, Lobão, Danilo Gentil, Regina Duarte Alexandre frota, Luciano Huck, Coronel Telhada e o Ronaldo (que de fenômeno nada tem) - descolou-se da irritação privada para marchas de 500 a 1000 pessoas ou para a internet. A reação da campanha do PT foi a rede ser usada para desconstrução de boatos, de ataques diuturnos da imprensa, contra pesquisas falsas e, em alguns casos, também com agressividade, ainda que muito menor. A internet teve um grande papel, pela segunda vez em eleições presidenciais, mas foi a rua o grande show. A esquerda voltou, com grande passeatas, bandeiras, comícios gigantes, politização do debate. A ela estavam unidos os setores mais sofridos do Brasil, a ascensão social que permanece, as pessoas que melhoraram - e vêem isso para seus filhos - e melhoram com mais chances na vida, pela educação e a formação. A vitória do norte-nordeste é isso, somente isso - e isso é muito. O número final foi de 70% a 30% - dá o que pensar; no norte foi próximo de 65%. E o sul-sudeste? Dilma diminuiu a distância no sudeste porque venceu em Minas, o estado do grade paladino da moralidade - pela segunda vez. Aqui ele foi salvo de um vexame pela capital e a região central, o que diz muito sobre como o estado foi dirigido. Ele perdeu no sempre interessante Rio de Janeiro e teve uma grande vitória em São Paulo. Isso também diz muito. O tamanho do eleitorado de SP teve papel muito forte em sua votação e hoje é um estado espumando de ódio. No sul, Dilma perdeu por pouco no Rio Grande e por mais em Paraná e Santa Catarina, os dois estados mais conservadores do país ao lado de SP. O PT sempre teve dificuldades em PR e SC. Perdeu também no agro-negócio do centro-oeste. Aqui é curioso: O PT nunca enfrentou  o agronegócio, mas perdeu assim mesmo - e como sempre. Esta eleição, por mais que a mídia  tente marcá-la como ascensão da reação, não foi tão diferente. Aécio cresceu perto de 2% a mais que Serra em 2010, venceu onde Serra venceu antes e as bandeiras não foram tão diferentes. O sentimento no país não é tão diferente, exceto por algo muito importante: mais ódio, mais intolerância, mais medo dos mais desfavorecidos, mais medo da perda de privilégios. Há também um sentimento mais forte anti-corrupção. Quase toda a campanha de Aécio no segundo turno foi isso, mas não é somente isso. Esta é uma agenda para Dilma atacar rápido, e eliminar seus críticos com medidas claras.
     Finalmente, a imprensa. Desde que Lula assumiu há um implacável cerco das famílias que comandam esse setor no Brasil. As redações tornaram-se monotemáticas, tomam a versão pelo fato, não investigam nada, patrocinam vazamentos seletivos de inquéritos, distorcem fatos e, somente muito raramente comportam-se de forma equilibrada. De todos, como sempre, as organizações globo e a abril são os chefes da quadrilha. A revista veja é um esgoto, mas, ao fim da campanha, ela ultrapassou todos os limites, buscando alterar a vontade do eleitor com depoimentos sem provas e exatamente menos de três parágrafos. Pois o divulgado foi uma capa, articulada com a campanha do PSDB e com outros meios "jornalísticos". Condenada a não dar publicidade a si mesma, desobedeceu e, agora de forma decisiva, o Tribunal ameaçou multá-la em R$500.000,00 a hora. Aí recuou. Se corrupção merece interesse, a cidadania não pode mais conviver com meios de comunicação que controlam impérios e capazes de manipular informações e sem conviver com um adequado direito de resposta. nada de controle de meios, de controle de conteúdo, trata-se de regulamentação e regulação eficientes.
     No momento em que escrevo, Dilma está reeleita e o PT vai para seu quarto ciclo. O governo errou quando não enfrentou a mídia golpista no passado, quando flertou com setores rentistas e quando não aprofundou a política social efetivamente. Quem sou eu para propor uma agenda, mas como cidadão arrisco a fazê-lo. Como cidadão e eleitor de centro-esquerda. Porque, Dilma, fomos nós que seguramos quando a coisa ferveu; fomos nós que fomos às ruas, à internet, a debates e derrotamos a reação, cada um em seu front. Algumas sugestòes para a agenda precisam ser feitas e debatidas pelas forças que venceram. Tentemos resumí-las, porque isso merece uma postagem exclusiva:

* é hora de virar para políticas de inclusão mais ousadas. Abandonar qualquer ilusão de "rede de proteção social", o que determina políticas sociais compensatórias e para longe da universalização de serviços. Perseguir a inclusão e buscar direitos de cidadania antes que mera focalização;
* desenvolver mecanismos de democratização da mídia pela regulamentação do dispositivo constitucional sobre a propriedade dos meios de comunicação e com relação a uma legislação por direito de resposta. Adicionalmente é preciso repensar as verbas publicitárias para veículos que perdem audiência e comportam-ser como partido;
uma política ativa de emprego, aproximando políticas sociais e emprego de qualidade com formação adequada; 
* valorização dos mecanismos de ação econômica de fortalecimento do setor público e dos bancos públicos como agentes do desenvolvimento; 
* tratamento do setor produtivo com políticas seletivas em um conjunto ordenado de medidas não erráticas e negociadas por câmaras setoriais, dentro de uma poltica de valorização da indústria
*  incentivo aos mecanismos de participação e aos arranjos de concertação com a sociedade civil;
* o desenvolvimento de uma agenda ambiental que permita avanços no diálogo crescimento/sustentabilidade, acoplando este debate ao nível de emprego e de qualidade de vida com projetos locais de desenvolvimento;
* medidas que calem a reação com relação a corrupção, reforçando controles, nomeações técnica e acordos com absoluta investigação da AGU sobre aliados. Isso à luz do dia, onde setores fisiológicos são constrangidos. 
* o esforço em volta da reforma política em parceria com a sociedade e com  o Congresso. A ideia do plebiscito sobre o texto final é uma boa iniciativa.
     
    É apenas uma sugestão de pauta inicial. A luta começa agora, de novo. Jogamos a reação para seu significado de fundo do palco. Mas eles espreitam de volta.Para quem acredita em outro Brasil, democrático e inclusivo, a luta não pára. Daqui a quatro ans estaremos na rua novamente. Eu prefiro que seja antes, mobilizando pelas reformas de esquerda. No momento em que a Europa queda-se envergonhada diante da crise que os liberais criaram e estão mantendo, a centro-esquerda europeia banqueteando-se com medidas de direita, cá estamos nós, na vanguarda da América Latina, dizendo não. Eles, o partido da reação, dizem que somos atrasados, que o Pacífico é o futuro, que somos dinossauros. Não senhores, nós vivemos aqui e agora, nosso compromisso é com outro mundo e outra globalização. E vocês, da reação lacerdista, tem um caminho: Miami está distante 9 horas de vôo; deixem o país para quem dele não abre mão.
     Grande vitória, grandes esperanças, a la Dickens. Agora é avançar.

sábado, 25 de outubro de 2014

Um balanço do processo eleitoral 24 horas antes: a caminho da vitória ou de um Brasil menor

As eleições terão a abertura das urnas em menos de 24 horas. Mas elas começaram tem muito tempo, na verdade há 12 anos atrás. A vitória de Lula foi um dos maiores marcos da democracia brasileira não somente pelo fato em si, mas por tratar-se de um líder da democratização, liderança operária, fundador de partido e central sindical e dotado de uma enorme sensibilidade politica e social. A trajetória percorrida por seu governo, após dois anos iniciais engessados pela presença de ministros como Palocci e seu par do Banco Central, propiciou uma extraordinária mudança de rumo na política social, na inclusão, no emprego, na renda, Que os tucanos e sua trupe não o reconheçam é do seu jogo; que torçam e se ocultem atrás da mitologia na qual acreditam não é uma surpresa. Estou pouco me importando para o que acreditam, pois o fato é que o Brasil mudou, independente do ranger de dentes e dos discursos udenistas. E não foi porque o governo criou consumidores e não cidadãos, interpretação bastarda incapaz de reconhecer que o fim da fome, o incremento de renda e direitos tem efeito sobre a cidadania. Foi isso que propiciou a vitória de Dilma em 2010 e hoje, de novo, vai conduzindo-a à vitória.
Esta foi uma campanha das mais duras. O primeiro turno foi desdramatizado, pouco afeito a grandes movimentos, marcado pela ascensão de uma candidata fraca e pouco expressiva, que ingressou no debate nos termos do rentismo, do neoliberalismo, de uma confusa junção de crença religiosa e sustentabilidade ambiental. Tudo isso em um coletivo deu naquilo que sabemos: o desmonte diante do debate politico. A adesão da candidata ao campo da oposição a colocou exatamente na hora e local do embate entre os projetos em disputa - ela estava ao lado de Aécio como o segundo turno comprovou.
O segundo turno foi uma batalha entre os dois projetos, que certas leituras mencionam como distantes do Brasil real e insatisfeito. Nada mais equivocado:  o eleitor sabe exatamente o que está em jogo, de ambos os lados; e os eleitores escolhem lado. Se criticam as instituições, escolhem lado  - e agora; se não se sentem representados também escolhem lado - e agora. Portanto o Brasil se encontra nas eleições.
Não é segredo que não voto em Aécio e não acredito em sua vitória. Nunca acreditei. Mas "acreditar" é pouco. sempre o vi como limítrofe, sem imaginação e sem liderança. Péssimo governador, legou uma enorme dívida, uma educação pífia, uma saúde sofrível, uma mídia controlada. Sem contar aeroportos e publicidade em rádios familiares. Vamos debater corrupção? Claro: mas isso significa discutir sobre quais instituições a devem coibir e com que aparato, com qual gestão, com qual estrutura. E sempre será necessário investigar, deter, julgar, permitir o contraditório, condenar e prender , se for o caso. O resto é campanha. Campanha que o PSDB, diante do indefensável governo FHC e da gestão pífia de Minas, centrou no tema da corrupção, ignorando tantos outros temas caros ao Brasil. É muito pouco para se debater o país, mesmo que o tema mereça toda a atenção.
Veio a tona o pior. Colunistas da grande mídia pregando golpe, passearas iradas, pessoas de branco rasgando seu código de ética, camisas negras com fundo azul em bandos, discursos de ódio, e, me perdoem os sensíveis, muito mais da classe média tradicional ressentida, da elite incomodada, da imprensa sempre buscando seus interesses e também de cidadãos insatisfeitos com o PT, legitimamente e sem truculência apoiando Aécio. Mas a truculência de quem apoia Aécio tornar-se-á lendária. Bem como as memoráveis manobras do pior lixo da mídia brasileira,que é a revista veja (e a IstoÉ, o globo, a folha, o estadão, o estado de minas ou o zero hora). Se tudo vale, com frases soltas, ilações e sem aúdio, quem mais ameaça a democracia?
Nesse momento não há mais muito a dizer. Passei mais de 15 dias dizendo que Dilma venceria. Por que? A expansão de Aécio ao fim do primeiro turno s esgotara, Dilma melhoraria em estados-chave, a comparação a seu favor com relação ao governo é muito forte e tem a ação em si das ruas. Isso deve ser mais que suficiente para abrir de 4 a 5 pontos de vantagem.
Finalmente, a campanha de rua foi extraordinária no segundo turno. Boa parte da esquerda se reencontrou, os eleitores se identificaram muito mais a Dilma, a dramatização atingiu níveis importantes para a mobilização e o PT fez enormes comícios. É isso, em se confirmando a vitória de Dilma, um grande legado,  como se dissessem "estamos de volta". Tenho certeza que Dilma entendeu o recado. É hora de virar, dar passos adiante para políticas de inclusão ainda mais ousadas. Abandonar qualquer ilusão de "rede de proteção social", o que determina políticas sociais compensatórias e para longe da universalização de serviços; desenvolver mecanismos de democratização!ao da mídia pela regulamentação do dispositivo constitucional sobre a propriedade dos meios de comunicação e com relação a uma legislação por direito de resposta; uma política ativa de emprego, aproximando políticas sociais e emprego de qualidade com formação adequada; valorização dos mecanismos de ação econômica de fortalecimento do setor público e dos bancos públicos como agentes do desenvolvimento; incentivo aos mecanismos de participação e aos arranjos de concertação com a sociedade civil e o desenvolvimento de uma agenda ambiental que permita avanços no diálogo crescimento/sustentabilidade, acoplando este debate ao nível de emprego e de qualidade de vida com projetos locais de desenvolvimento. Sei que isso representa um programa, mas nós já começamos.
Nada detém a primavera. Interferir na democracia de forma a distorcer fatos, como desejam a veja ou a globo, não importa agora. Loucuras corporativas anti-pobres também não. Hostes proto-fascistas não podem e não vão pautar eleitores. A serenidade da vitória se constrói no dia a dia e cm a certeza de que muito foi feito e muito ainda será feito. Apesar de Aécio, do PSDB, do DEM, do PPS, de parte do PMDB, mas sobretudo apesar de quem acredita que o Brasil pode voltar atrás. Grupos e pessoas na oposição - claro que não todos, claro que não os eleitores mais inteligentes de Aécio -  precisam compreender que o Brasil mudou e já é hora de aceitar isso incondicionalmente e sem se refugiar em vagos discursos elaborados.
Até a vitória. Direita: no pasarán.
Dilma 13 é a opção para o Brasil. Não se exige menos que a vitória.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Três dias para o pleito, a confirmar a vitória - a vantagem de Dilma e o projeto a ser aprofundado.

     Faltam dois dias de campanha e três para o pleito. Ibope (8 pontos) e Datafolha ) 6 pontos) indicam o "descolamento" de Dilma Rousseff e a imagem da "boca de jacaré". O IBOPE parece ter sido muito cuidadoso com essa pesquisa, talvez até tenha refeito o campo. Mas nada disso importa. Continuo acreditando em uma vitória e por uma margem ligeiramente menor - de 4 a 5 pontos. O fato é que Dilma deve vencer - apesar do jornalismo comandado pelo esgoto aberto, dos brancos anti-éticos, dos camisas negras com fundo azul e da horda truculenta. O país consagrará sua candidatura e seu projeto por algo entre 52% e 53% do eleitorado com votos válidos. Isso configura uma forte divisão: pelo lado dos eleitores que preferem o projeto do PSDB, um sentimento estranho de irritação com os mais pobres e seus avanços, o desafio proporcionado por novos padrões de consumo, a política externa, um difuso e confuso movimento anti-corrupção (inflado pelo lacerdismo do PSDB-UDN) e um seletiva indignação contra o PT estar há doze anos no poder (lembrando sempre que o PSDB está passando 20 em SP), aliado por um temor falsificado do "comunismo" . Pelo lado do PT, a defesa de um novo padrão de desenvolvimento calcado na expansão de uma economia social de mercado, novos padrões de consumo e renda, políticas industriais mais ativas, financiamentos públicos e políticas sociais (espera-se) mais inclusivas.
     Para completar o projeto, a confirmaçao da vitória de Dilma, precisa sinalizar a ela e seus estrategistas o recado que os eleitores estão fornecendo abundantemente: é hora de virar para políticas de inclusão mais ousadas. Abandonar qualquer ilusão de "rede de proteção social", o que determina políticas sociais compensatórias e para longe da universalização de serviços; desenvolver mecanismos de democratização!ao da mídia pela regulamentação do dispositivo constitucional sobre a propriedade dos meios de comunicação e com relação a uma legislação por direito de resposta; uma política ativa de emprego, aproximando políticas sociais e emprego de qualidade com formação adequada; valorização dos mecanismos de ação econômica de fortalecimento do setor público e dos bancos públicos como agentes do desenvolvimento; incentivo aos mecanismos de participação e aos arranjos de concertação com a sociedade civil e o desenvolvimento de uma agenda ambiental que permita avanços no diálogo crescimento/sustentabilidade, acoplando este debate ao nível de emprego e de qualidade de vida com projetos locais de desenvolvimento. Sei que isso representa um programa, mas nós já começamos. Não desejamos é ter Meireles, Palocci ou gente desse calibre no governo. As ruas sinalizaram, neste segundo turno, que o PT voltou até elas, a esquerda (que importa) uniu-se e convergiu com DIlma (mesmo criticamente), os mais beneficiados com o governo também responderam. Mesmo com um Congresso muito dividido e sem capacidade para construir maioria de 2/3, cabe governar olhando para o lado e para o projeto mais largo, há espaço para uma maioria simples mais sólida e a condução de políticas na margem permitida pela ação do executivo. E é preciso politizar a agenda: por exemplo, imposto sobre grandes fortunas e alteração no imposto de renda com alíquotas mais progressivas apresentaria ao Congresso uma pauta que, articulada a uma boa estratégia de mídia, pautaria o debate pela sociedade e não exclusivamente no parlamento. A hora está chegando. Com timidez, daqui a 4 anos, os camisas negras de fundo azul estarão aí de novo. Dia 26 é Dilma - 13. Não se pede mais que vitória.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Um fim de semana antes do pleito - pensando a eleição no calor da decisão

Segunda - doa 20/10/2014

Começou a semana da vitória, dos 4 ou 5 pontos da vitória. O quadro está se alterando? Nem tanto, nem tanto ... . Como Dilma irá se deslocar aqui em direção a uma frente pequena, mas consistente, restará a Aecio dois movimentos: ir desesperado de volta às suas "bases" de SP e MG, que não serão suficientes para ele. O outro é buscar recuperar eleitores que migraram de última hora para ele entre o fim do primeiro e o inicio do segundo turno e que não ficaram. Isto também não é uma boa notícia para ele, pois a fluidez desse eleitor, se ele veio e saiu, favorece Dilma na tábula de comparações entre seu governo e o "nada" lacerdista de Aécio. Assim, restam os poucos indecisos. Estes são a incógnita de sempre. Mas vejamos: Marina demorou tanto a apoiar que tornou-se irrelevante; não que não fosse antes, mas havia a ilusão de "seguidores". Como já escrevi antes, eles não existem no número que muitos esperam. Pelo lado da campanha "mar de lama" talvez o tema comece a impacientar o eleitor. Da mesma maneira que em uma peça, pode ser que a curva de agressividade e virulência tenha chegado ao topo ate sábado. Se isto é verdade, a semana será mais corrida e menos agressiva no tom por parte dos candidatos. Se ela se tornar mais propositiva, como dizem do debate de ontem, melhor para Dilma que para Aécio. COm tudo isso, vamos aguardando, com a certeza do lado que escolhemos - e, sim, caro ingênuo espectador da politica, segundo turno tem lado (ou então vote nulo) - e a serenidade de quem nunca duvidou, em base reflexiva, que Dilma vencerá de 4 a 5 pontos no domingo. Bom dia a todos, a semana da vitória começou a ser construída.

Domingo - dia 19/10/2014

Faltam 7 para a eleição. Com a fé inquebrantável na vitória e a certeza, cada vez maior, que não se pode deter a primavera. Não deve haver pesquisa que abale, particularmente as feitas com o "rigor científico" da sensus (e por onde anda o instituto paraná?), a conversa vazia sobre a Petrobrás (repararam que deu uma sumidinha da mídia? Corresponde a um nome do PSDB na lista), a ideia de que tudo vai mal (vai, para o condomínio PSDB/DEM/PPS que faz provavelmente a pior oposição do século) e do "mar de lama", que existe apenas no lacerdismo dessa campanha. Aécio sabe do que está falando? Ele é neto de Tancredo Neves, ministro da justiça de Vargas, aquele presidente que se suicidou, atacado, caluniado e, por fim,com seu gesto, quem fez a mídia vagabunda da época - o globo a frente - recuar ao fundo do palco, além de deter um golpe. Aécio sabe o que significa na história do Brasil o mar de lama? Duvido, ele parece ter fugido da escola. Aliás, ele não estudou economia? Por que não conhecemos um único artigo seu sobre nada relevante, nem um mísero discurso decente de líder da oposição? Bem, escrever não é seu forte e muito menos ser líder. Governou Minas - do Rio - entregando o estado ao seu vice. Ele enfrenta uma mulher, militante desde a juventude, galgou postos de estudo e de comando, foi secretária, ministra, Presidente e aliada a um programa de desenvolvimento, crescimento, emprego, renda; com ampliação da regulação e da ação estatal; que combateu a corrupção, desenvolveu um enorme programa de obras públicas, construiu creches, e um enorme número de realizações. Prefere votar em Aécio e em seu "mar de lama"? É do jogo, é da democracia. Sem problema, ser infeliz é uma opção. Mas deixe em paz quem quer votar no PT, não agrida, xingue ou se imagine superior. O Brasil em que você acredita não existe mais. Dia 26, ‪#‎DilmaRoussef‬‪#‎vota13‬‪#‎ondavermelha‬. Dilma vai vencer de 4 a 5 pontos e, apesar dos tucanos, há de ser outro dia, porque o novo tempo já começou e não vai parar.

Sábado, dia 18/10/2014:

1-
Desejo bom dia aos meus amigos. Desejo também um bom dia ao eleitor de Aécio Neves. Tranquilizem-se aqueles que estão movidos pelo ódio; que pensem no amor - e esqueçam Feliciano, Malafaia, Serra, Marina, Lobão, Reinaldo Azevedo e os economistas cuja visão de mundo é uma planilha excel. E, pelo menos, plantem em sua mente uma dúvida razoável se é possível votar em alguém tão limítrofe e incapaz de ideias próprias. Havendo dúvida, lembrem-se de São Francisco: onde houver dúvida, leve-se a fé. A fé em outro Brasil que vai mudar mais, mas que voltaria atrás se Aécio vencesse. Dia 26,  Dilma a frente de 4 a 5 pontos.
2-
Acabo de ler o "Manifesto da Esquerda Democrática" Pró-AÉcio. Ao terminar tenho um gosto esquisito na boca. Assinam nomes muito respeitáveis, eventualmente conhecidos nossos. Com todo respeito, boa parte do texto é a crença de que Aécio e o PSDB são outra coisa, a qual eles certamente não são como prova a história recente do país. Por outro lado, parece ser uma tentativa de justificar um voto de esquerda porque rejeitam o PT, ainda que boa parte do que advogam seja o que vem fazendo ... o PT. Vejam estes trechos (entre aspas):
"Aécio Neves e aliados representam uma oportunidade para que se retomem os fios rompidos da vasta tradição do reformismo democrático no Brasil. Seu governo poderá dar seguimento às vitoriosas políticas sociais dos últimos anos. Programas de grande impacto social, como o Bolsa Família, o Mais Médicos e o Minha Casa Minha Vida, podem e devem ser aperfeiçoados, reestruturados e ampliados. O Estado precisa continuar a ser recuperado como fator de regulação econômica e de promoção do progresso social" (...)
"Precisamos de governos que bloqueiem a corrosão que os interesses privados vêm promovendo no campo público, como ocorre no SUS, na educação e na política assistencial". 
1 - retomar reformismo democrático??? Aécio???? O PSDB ???? seus aliados ????
2 - Seguimento???? Mas como, todos esses programas são desenvolvidos e concebidos em governos do PT. de alguns eles fizeram oposição. Criaram a fábula da paternidade do bolsa-família, programa que os eleitores médios de Aécio odeiam. O Aécio e o PSDB/DEM/PPS é que farão isso???
3 - Estado regulador e promotor de progresso (sic) social?????? O PSDB e Aécio ????
4 - bloqueiem a corrosão dos interesses privados??? O que isso significa??? Aécio e o PSDB defender o interesse público em uma democracia social de mercado? Empresas estatais, regulação de concessões no interesse público? O fortalecimento de empresas como a Petrobrás e do BNDES????? Com Armínio Fraga????
Bem, se o Manifesto afirma ser esta a "esquerda democrática", qualquer outra que divirja desta deve ser stalinista, ou talvez eticamente inferior ou até outro adjetivo cunhado pela veja. Com todo respeito, sou de esquerda, não sou desinformado e defendo pontos semelhantes ... E QUE NÃO PODERÃO SER LEVADOS A CABO POR AÉCIO E SUA ALIANÇA DE CENTRO-DIREITA.
A boa notícia é que esses intelectuais se manifestaram. Eu sempre acho válida esta dimensão pública. 
Democraticamente divirjo do tom, do conteúdo e do voto. Mas é ótimo que tenham posição. Quando Dilma vencer terão a oportunidade de debater as políticas do governo, de novo, do PT.
3-
Da série: para que serve a justiça eleitoral? Sei, a pergunta parece retórica. Exige registro de pesquisas, não entende nada disso, aceita qualquer coisa e autoriza. Funciona todo o tempo, fora dos períodos eleitorais, com uma burocracia enorme que poderia servir em outras planícies. E vem agora com parcialidadades estranhas: o programa de Dilma não pode mais falar do aeroporto de aecin nas terras da família. Usar a petrobrás, depoimentos vazados sem provas e pesquisa sensus pode. A campanha de Dilma vem lutando contra os rentistas, os oportunistas, parte do PMDB, a imprensa golpista, fora os adversários tradicionais e uma justiça eleitoral com dois pesos. E, mesmo assim, teve 44 milhões de votos. Dia 26, serão mais de 55 milhões, e 4 ou 5 pontos a mais. Aécio? Nunca!
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/…/tse-proibe-dilma…/

4-
Uma certa parte do eleitorado realmente acha que esta eleição é um embate pela moral, a família e os bons costumes, com Aécio tornando-se o campeão da moralidade pública. Até no PT tem pessoas que caem na esparrela de que a eleição é sobre Aécio ser uma ameaça aos programas sociais. Não , amigos, não é. É muito, mas muito mais, que isso. É uma eleição que interfere sobre a posição brasileira no mundo e seus recursos hoje e amanhã. é sobre desenvolvimento, é sobre soberania, é sobre poltícas públicas mais universais. E é sobre petróleo. Vejam este link: http://www.jornalggn.com.br/…/o-pre-sal-na-mira-dos-apoiado… . Alguém ainda acha que Aécio é o coroinha da paróquia???? Ele é o corifeu dos mercados, com Armínio como ministro. Ruim e sem liderança como é sera o governo dos assessores da planilha. Aécio? Nunca.
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Sexta, dia 17/10/2014:

Nem na última eleição, com a selvageria moralista de Serra, as pesquisas desceram a um nível tão crítico. Mas nada explica a atitude dessa tal sensus. Ao fim da tarde, a mais nova candidata a seguidora da veja, a Isto É, voltou a divulgar uma pesquisa. Não indico link porque lugar de lixo é no lixo. O resultado, na estimulada, é 56,4% de Aecin x 43,6% de Dilma .Uma vantagem de 12,8 pontos. Atenção: semana passada a vantagem era de 17%, lembram? Pois bem: os indecisos vão aos 12%. Se esse milagre estatístico operasse com algum nível de verdade, Aécio despencou e vai desfazer. O sensus resolveu se aproximar mais de outros resultados, ao mesmo tempo em que mantém a liderança de Aécio. Se a sensus fez o que parece, montou uma amostragem camarada, o resultado é péssimo para Aécio. Ele despencou na amostragem de locais amigos. Se eu fosse os tucanos ficaria preocupado. Agora que tem denúncia contra presidente do psdb nos vazamentos do tal juiz Moro, a petrobrás desapareceu da cena da mídia. Repararam? E foi uma semana de trocas duras de acusações. Cada vez mais confiante. Meu "sensus" é que a frente de Dilma Rousseff vai se consolidando. Aécio deveria se abraçar aoss seus amigos da sensus pois nem as amostragens amigas vão salvá-lo.


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

10 dias para o pleito - Uma eleição paradigmática pela disseminação do ódio

Eleições são momentos mágicos, onde a escolha de um se reúne à escolha de muitos e todos produzem um governo legítimo. Mas até a urna há uma via sacra de horrores. O que está acontecendo no segundo turno é um filme de péssimo diretor, sem trilha sonora, enredo sofrível e um ódio interminável. Não desejo incentivar o ódio, mas não compreendo a campanha dos apoiadores de Aécio. Sou eleitor declarado de Dilma, nunca escondi essa preferência, voto na centro-esquerda democrática ou na esquerda consequente e não posso aceitar ser chamado de desinformado, ignorante ou idiota por isso. Também não sou um petralha, esse adjetivo sofrível inventado por um articulista conservador e irresponsável; ou esquerda caviar; ou anta ou coisas assim; também nunca desejei que Dilma ou Lula voltassem a desenvolver uma doença terrível como o câncer, que pode devastar. Eu não vejo eleitores de Dilma, e digo sinceramente e espero ter o benefício da dúvida, se comportar dessa forma deselegante, ofensiva ou algo assim. Na maioria das vezes, o eleitor de Dilma responde com ironia, algumas até exageradas, mas o ódio tem sido atributo de muitos eleitores de Aécio. Podem fazer alusões a Aécio como consumidor de drogas ou recusando-se ao bafômetro, mas desejar sua morte? De onde isso vem? Nós não passamos anos e anos suportando uma imprensa de grandes famílias que distorce a realidade, mente sobre dados, só apresenta notícias negativas; da revistas que empregam articulistas de ódio; de economistas que somente encontram notícias ruins; de pesquisas eleitorais estranhas. O governo Dilma enfrentou pouco alguns problemas, um deles foi não debater a democratização da mídia; outro foi não aprofundar a universalização de serviços públicos; outro foi não enfrentar o rentismo . Não é possível um país chegar às eleições, faltando 10 dias, e voltarmos aos anos 50 e ao "mar de lama". A prática é lacerdista, a linguagem também. Posso entender as campanhas e as estratégias, mas o ódio em geral está terceirizado é pela mídia, seus corifeus e chega aos eleitores, que parecem se sentir em uma república de bananas. O fato é que Dilma fez um governo bastante razoável pilotando-o em meio a uma grave crise, sob cerrada oposição e ainda obteve mais de 43 milhões de votos. Somos todos idiotas desinformados? Eu adoro estar deste lado. Não sinto ódio pelos tucanos e seus eleitores, não acredito em duende nem no fim do mundo, sei exatamente como o jogo é. Nós nos preparamos para isso durante anos, mesmo tendo um ex-sociólogo nos infantilizando, uma pessoa pública que sempre respeitei mas que agora tem um comportamento inaceitável para alguém que foi relevante. Tenho a tranquilidade de um lado, a tranquilidade de quem tem certeza de saber o que aconteceu e o que será, a tranquilidade de quem sabe que vai vencer. No dia 26 Dilma terá de 4 a 5 pontos de frente e vencerá. Posso errar? Claro. Mas o eleitorado já se reacomodou em novo patamar e este favorece Dilma. Mas não seria demais pedir um pouco de serenidade. O Brasil merece mais que debater uma eleição como se estivéssemos entre o abismo econômico e moral - O QUE NÃO É VERDADE - e a redenção milenarista de salvação representada pelo PSDB. Vote em Aécio e seja infeliz, se assim lhe apetece. Mas me deixe votar em quem eu quiser sem ofensa, sem agressão. Eu e todos os mais de 55 milhões que votarão em Dilma no dia 26.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Sobre a campanha do segundo turno ou porque Dilma tem vantagem (contrariando a onda que acredita em Aécio)

          Neste momento, faltando 12 dias para o segundo turno, há algumas certezas no ar:
1 - o pais continua em uma polarização de encruzilhada. Muitos não gostam dela e ficam blasfemando contra as forças políticas do PSDB e do PT. Bobagem isso: é brigar com a realidade.
2 - Marina Silva terminou quase igual a 2010. Ela realmente importa? Para a imensa maioria que votou nela não vejo como ela pode imaginar que influencia alguém a votar em Aécio. Quem decidiu o fez antes de seu apoio e quem o fez indo para Dilma também o fez apesar de Marina. Qual a maior coerência do eleitor típico e insatisfeito com a "velha"política? Mesmo que eu considere uma besteira, o coerente é anular seu voto e permanecer na postura olímpica de "não aceito isso".
3 - Não se sabe quem vai vencer. Mas, daí não se segue que não podemos inferir alguns dados. O empate virtual ao início do segundo turno é uma boa notícia para Dilma. Por que? Vamos lá:
       A - O eleitorado se acomodou entre domingo e sexta, dias que uso apenas para um marco. Nesse primeiro movimento, Aécio cresceu, encostou e pode ter ultrapassado;
       B - após este movimento, a campanha retomou e novos fatos foram acrescidos. Em um dos seus lentos movimentos, Marina somente apoiou Aécio na segunda, dia 13. Demorou e tornou-se mais irrelevante. As bombas da mídia chegaram e passaram: delação premiada em horário nobre (deve ser a única do mundo), ataques a Petrobrás, apoio a Aécio de Felicianos, Bolsonaros e Malafaias; entrevista confusa do ex-presidente, ex-sociólogio e ex-inteligente Fernando Henrique sobre eleitores "desinformados, o costumeiro circo da mídia. Que aconteceu? A divisão se ampliou e eles estão empatados com tendência de Dilma se recuperando.
     C - muitas vezes analistas se esquecem que o segundo turno cristaliza posições rapidamente. Mas há um percentual do eleitorado que se reacomoda. E muda. Quem mais cresceu diante do maior amorfismo do eleitorado? Aécio. Agora, amigos, na hora de decidir, o maior amorfismo não favorece Aécio - desde que a campanha de Dilma se encarregue de desmontar o que significa seu projeto.
     D - Este último ponto acima é o mais importante. Por que? Porque é aqui que a política entra, é  onde a ação da campanha faz diferença. Vejamos um exemplo: Aécio vai a Pernambuco desesperado procurando crescer no nordeste e consegue apoio da família de Eduardo Campos. Mas, Pernambuco foi um estado onde Marina venceu e, convenhamos, o peso da família Campos pode valer emotivamente mas no conjunto do estado não tenho certeza. Quem é um grande eleitor em Pernambuco? Lula. Quem mais favoreceu o estado esses anos? Os governos do PT. Portanto, mesmo onde Aécio quer levar vantagem, o cenário lá pode mudar pró-Dilma. O fato de Aécio contar com uma campanha totalmente negativa, operando sempre no negativo: até quando isso funciona no eleitorado que pode aderir ou se afastar? À medida que o tempo passa, a campanha de Dilma deve desconstruir essa sinistrose monotemática e pergunta cromo ele vai governar com isso. E existem todas as contradições relativas às adesões. Em suma: a politização e as comparações são muito mais favoráveis a Dilma que a ele.
     E - A distribuição de voto pelo país é outro elemento. O nordeste dará grande vitória a Dilma e lá Aécio deve tentar quebrá-la. É sua única chance de crescer além de seu eleitorado tradicional. Ele vence no sul e no centro-oeste, vence no sudeste, deve dividir e perder na região norte. A diferença? No primeiro turno ele já havia vencido nessas regiões. Mas, para Dilma, trata-se do seguinte: dá para crescer mais no nordeste: sim! Dá para alavancar um pouco em SP e Minas? Sim. Vai vencer no Rio e pode vencer no Rio Grande do Sul. quebrando um pouco no centro-oeste. Isso dá a ela a vantagem que precisa.
    F- Há um problema para Dilma. Os eleitores mais jovens e de renda média para cima tendem a preferir Aécio. Isso se deve à combinação do desgaste do próprio governo em setores de renda média- alta - não se contraria interesses sem reação - e o fato de muitos jovens enxergarem o governo Dilma pela lente geracional. O que isso significa? Escrevi nesse blog sobre isso há alguns dias. Quem cresceu na maior prosperidade já deseja mais e, por sua vez, não vê o PT como um aglutinador de seus interesses mais imediatos. Marina capturou sua parte, Aécio manteve essa captura e aqui Dilma avançou pouco. É preciso um temário de juventude que foi pouquíssimo explorado. O voto em Aécio aqui é muito mais inercial que convicto. Aqui reside um terreno quase matemático, pois quebrar uma pequena parcela desse eleitorado é muito importante para Dilma.
    G - ainda que assim seja - uma campanha esquerda (centro) x direita (centro), não é isso que move o eleitorado que muda. É a vida concreta onde a batalha se manifesta. Aí cabe mostrar que essa vida melhorou em governos do PT e não nos sinistros anos de 1990. Faz parte do item D, da politização, e a campanha de Dilma pode fazer isso.
   H - E, por último, creio que a ação de rua e na internet é muito mais efetiva a partir da militância que defende Dilma. Aécio é um arsenal de meias medidas, de um governo pífio em Minas que ele não mostra na TV, de um ex-presidente e um vice que ninguém quer e as comparações são desfavoráveis. Na hora da guerra existe um exército que se movimenta, sem a "militância" remunerada do PSDB, que enfrenta o debate e disputa corações e mentes. A ação de campanha de Aécio depende demais da TV - ele não ajuda pessoalmente - e do sentimento anti-petista de alguns setores. 
            Então, alguém poderia dizer:  mas, tudo o que esta escrito também pode valer para Aécio, ele também pode capturar ou manter o que conquistou. Claro que pode - e claro que Aécio pode ganhar. Eu somente não acredito que vá. Por que? Pela soma dos itens de B a H, porque Dilma, passado o movimento pró-Aécio, vai se recuperar, ultrapassar e atingir de 4 a 5 pontos além de Aécio perto do pleito. Isso porque  os novos fatos não criaram um tsunami pró-Aécio nessa primeira semana; o amorfismo do eleitorado agora favorece Dilma, que atua mais em camadas mais vastas da população; o PT pode politizar muito mais a campanha; descomprimir algumas regiões do país e crescer um pouco em cada - onde ela já perdeu - favorece Dilma; a comparação com o passado e mostrar o que fez dá vantagem a Dilma, Aécio não mostra nada; a possibilidade de ação nas ruas é maior para Dilma. Finalmente, se ela encontrar um tom para falar aos mais jovens, muito melhor. 
          Claro que existem alguns "se" e é óbvio que nada se sabe em definitivo. Mas, à luz de algumas evidências, creio que Dilma se recupera de algo que tenha perdido com mais facilidade. Se com tudo que já ocorreu na mídia e na gritaria lacerdista eles estão empatados, gritaria apelativa até com redução da maioridade penal, agora é hora de virar e expandir. Pode não ocorrer, ninguém defende a bola de cristal. Mas que existem elementos de otimismo, claro que existem. Será uma vitória apertada. Desde que as pessoas não se impressionem com pesquisas estranhas, denúncias vazias e a mídia. Ou, ao fim de tudo, como sou de esquerda e não me envergonho disso, por que não citar alguns colegas de jornada?

José Carlos Mariátegui, o grande marxista peruano: "Pessimismo da realidade e otimismo do ideal"; 

ou o grande Antonio Gramsci, para os mais céticos e entre os quais não me incluo:  "Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade".


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Avaliando o Primeiro Turno e Pensando no Segundo - Faltam 16 dias

       Ao fim de agosto, quando a candidata Marina crescera nas pesquisas, escrevi aqui mesmo nesse espaço: Por hora Marina é um pastel de vento que está inflando ... será que fura??? . Pois é, como todos já sabem hoje, 5 dias após o primeiro turno, furou ... . Em seu lugar ressurgiu o velho adversário - o PSDB e seu prócere, nesse caso, Aécio Neves. O fim do primeiro turno revelou uma Dilma Roussef com respeitáveis 43% dos votos e Marina perto dos esperados 22%; a surpresa foram, para os institutos de pesquisa e muitos de nós, os 33% de Neves. 
      Que aconteceu no domingo,  dia 5? Marina dá entrevista fazendo um balanço de o eleitorado votou 60 x 40 por "mudança". Calma Marina, a soma de seus votos e de Aécio são 54 e Dilma tem 43%. Os demais, tirando Genro, foram menos de 1%. Na verdade o cenário retomou algo que já conhecemos: a velha polarização voltou e Marina obteve quase o mesmo que há 4 anos, passou de 20% para algo perto de 21,5%. Portanto, sua atuação na campanha foi conseguir uma sangria de uns 10 pontos desde o enterro -comício, algo que Eduardo Campos não merecia. Aécio tem o que comemorar: cresceu muito - destaque para uma vitória na província que se tornou a mais conservadora do país, a gloriosa SP, e recuperando pontos em Minas, mesmo perdendo aqui para Dilma. Venceu no Paraná - o segundo maior estado oposicionista a Dilma - e em Santa Catarina, perdendo por pouco no Rio Grande do Sul. Nos demais estados, pouca surpresa. A expansão de Aécio em SP, em relação ao conjunto das pesquisas, mostra 44% para ele e 26 para Dilma. Como o eleitorado paulista é bastante grande e ele recuperou pontos no sul Dilma terá muito trabalho. Se compararmos a vitória grandiosa no norte/nordeste pear Dilma, uma divisão no centro-oeste ligeiramente pró-Aécio com Dilma vencendo também no Rio, teremos um segundo turno muito, mas muito disputado. Minas ainda é um campo importante para os dois, SP precisará ser mais conquistado por Dilma e ela precisará bastante do Rio Grande do Sul. A diferença deverá vir , particularmente, dos eleitores de Marina. Ela, pessoalmente, prefere Aécio, mas agora o PSB também tem voz. Podemos ter um apoio discreto dela e eleitores buscando um discurso. Alguns apostam, mas é um puro palpite, em 60% deles para Aecin e 40% para Dilma. A ver. Eu não faço esta aposta porque as peças não estão todas no tabuleiro. Se fosse assim, Dilma venceria. E Aécio não perde em Minas porque escolheu o candidato errado, como li outro dia de um "especialista" até respeitável: ele perdeu aqui porque o projeto dos tucanos para Minas acabou, fracassando em educação, saúde, segurança e sem resultados econômicos fortes, incluindo uma dívida ampliada. 
      Alguma observações sobre Minas: Considerando 10 as maiores cidades, Aécio venceu em três (BH, Contagem e Pouso Alegre) e empata em uma (Valadares). Grande vitória só mesmo em BH, com o dobro de Dilma. Em Valadares há problemas com o governo local do PT. Agora, Juiz de Fora (44,4% x 28%), Uberlandia (44 x 33), Uberaba (44 x 33), Betim (44 x 32), Montes Claros (52 a 30) mostram outro dado, pró-Dilma. A votação de Aécio está em 17,48% apenas em BH. Dilma vence pelo interior.
Pensando em indicadores, sobre saúde, a média não é diferente da nacional. Mas é preciso descer mais aos dados. Os tucanos começaram, há quase doze anos, oito hospitais regionais de porte maior - não entregaram nenhum e nem inovaram em nenhum sistema de atendimento. Há consórcios de saúde em Minas que funcionam de forma diversificada, alguns mais outros menos. Há problemas com SAMU em vária cidades. O estado esteve de costas ao governo federal muito tempo. Sobre educação, trata-se de IDEB de séries do fundamental que eles alegam. Vocês conhecem a questão do IDEB - divulga-se o ranking e ele se presta a "interpretações". Se ele é terrível e sobe - progresso; do contrário ele estaciona. Minas evolui lentamente no IDEB como a maioria dos estados e os indicadores não são espetaculares. É a velha pergunta: melhor em relação a que? À meta? Aos demais estados? Precismaos levantar mais dados. o resultado confirma que a diversidade do estado - e das regiões - mostra Dilma mais forte no interior e em cidades regionalmente importantes. Aquelas do nosso projeto, Juiz de fora, Uberlândia e Montes Claros, mostram Dilma bastante forte. Ela também vence bem em Betim. Mas perde forte em BH.

     No geral o país se dividiu, indicando uma reordenação que o segundo turno pode novamente reconfigurar. Mas agora não tem aquela história chata de que será outra eleição, nova: NÃO É, os adversários tem partidas diferentes e as histórias que trazem. Novo é o posicionamento de eleitorados outros. As primeiras pesquisas do segundo turno mostram o salto de Aécio para a frente - IBOPE e Datafolha indicam situação de empate. Bom para o Aecin, mas para Dilma a notícia não é tão ruim. O pais já estava dividido. É hora de conquistar um pouca mais da metade e retornar o PSDB à sua condição de coadjuvante menor na política nacional.  Hora, de novo, da política, da desconstrução de um candidato vazio ligado na máquina do tempo em direção ao passado. Faltam 15,5 dias para a eleição. Digamos que, em 7 dias, o quadro pode ter outro perfil. Até lá vamos com aquela calma de quem tem certeza do lado certo e aquela força de quem não pode admitir recuo nos avanços do país.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Eleições e gerações - sobre algumas raízes da disputa de 2014

     Já foi contabilizado o tempo de uma geração como em torno de 30 anos. Isso no passado, pois a própria velocidade do mundo capitalista contemporâneo, multiplicado por destruição criativa, obsolescência programada, mutações no trabalho e na família em escala acelerada e intercessões local/global encarregaram-se de comprimir o tempo. A política, pensando no Brasil, também tem uma parcela de contribuição nesse cenário.
    Tomemos apenas um exemplo temporal para um  - atenção - exercício:  40 anos atrás estávamos em 1974, para nós a década dos generais Médici e Geisel, do Brasil potência e da grande crise econômica que deixou cicatrizes até os anos 90. Mas, não percamos linhas com essa digressão, voltemos ao tempo. Quem nasceu em 74 teve pais nascidos na década de 50, a última da grande esperança brasileira de desenvolvimento com democracia, promessa que somente retornaria na década de 90 - e de forma parcial e frustrante. Os nascidos em 74 chegaram ao ano mirabilis de 1989, na eleição presidencial, aptos para acompanhar o que acontecia mas não para votar pois eles estavam chegando aos 15 anos. Vivenciaram, mesmo muito jovens, digamos desde os 12 anos, a hiperinflação e continuaram com ela durante o mais instável governo da redemocratização, o de Collor. Ao atingirem 18 anos encontraram o Plano Real e viveram a euforia dos tempos de menor inflação com âncora cambial e atravessaram a década de reformas estruturais e privatização, mesmo que as primeiras tenham sofrido oposição e resistência que limitaram suas ações. Aos 24 anos viram desmoronar a fantasia da quase paridade cambial e o início do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, que se assemelhou muito a uma lenta agonia de quatro anos, sem o místico sucesso do Real, cenário internacional problemático e sua filiação às reformas neoliberais que terminaram por arremessar o mundo em um mar de incertezas (as crises oriunda dedo México, da Rússia, da Coréia ou da Argentina o confirmam). Aquela geração - de 1974 - agora vivia a decepção de sonhos despedaçados em um país que certamente não era o dos sonhos vendidos pela década de 1990. Seus filhos, já nascidos em 1994, ano do Plano Real, ainda eram muito jovens quando Lula venceu as eleições em 2002, mas foram crianças que cresceram assistindo o país acelerando suas mudanças, chegando aos 16 anos ao fim de seu segundo mandato. E aptos a votar. Filhos de pais que foram do céu ao inferno com a crise de 1998/99, ajudaram a eleger Lula em 2002 e viram o país alterar sua rota em direção a outro projeto - mais inclusivo, mais "social", mais voltado ao mercado de consumo de massas e com resultados econômicos para apresentar - da inflação baixa, ao equilíbrio dívida/PIB, a elevada taxa de emprego formal, a inclusão de amplos setores ao segmento médio de consumo e movimentos para reduzir a desigualdade. Se a conjuntura fosse outra, não haveria Dilma.
    Quem nasceu na década de 60 observava o mundo em um curso maior porque viu quase adulta o fim dos governos militares e a campanha das diretas; adulta votou para presidente em 89 e vivenciou o auge e o fim da hiperinflação. Por isso, mas não somente por isso, conduziu o debate político ao patamar dual que, até esta eleição, opôs PT e PSDB. Isso não é um acidente: a regressão dos conservadores em termos de votos absolutos desde a queda de Collor - envergonhados no PFL (depois DEM) e seus satélites, em partes do sempre partido PMDB - não é coincidência. Recordemos que o PSDB não era essa potência udenista e conservadora até o primeiro governo de FHC. Havia nascido de outro DNA. A mutação foi de FHC para a frente, atingindo seu auge na campanha de Alckmim e Serra e mantendo-se célere nessa marcha até aqui. Seus satélites - como sempre, parte do PMDB, o DEM, o ex-quase-partido PPS - tornaram-se membros do condomínio por falta de competitividade e competência para outro projeto. O PMDB permanece com uma força fincada em dois mundos para usufruir do melhor (e também do pior) de ambos. Após a fracassada tentativa de Ulysses Guimarães em 89, o partido decidiu jogar sua história aos leões e adotar a prática de fiel da "governabilidade", nunca deixando de colocar os pés nos dois lados. 
    E o PT também mudou, passou ao pragmatismo da governabilidade e, sim, afastou-se da geração que o viu crescer, a que mencionei como nascida na década de 60. Aqueles que permaneceram à esquerda sempre desconfiaram da guinada liberal do PSDB nos 90 e permaneceram votando ou em torno do PT e suas alianças. À época dos anos de 1990 ficara longe do PMDB, onde talvez devesse ter permanecido se estivéssemos em outro mundo. A parcela algo centrista e mais conservadora aproximou-se do projeto do PSDB e seu condomínio surfando na economia aberta e dolarizada, sem contar que suas posições ideológicas afinavam-se ao mundo de privatização, desregulação e encantamento com o hemisfério norte, mais os EUA que a Europa. A mudança pragmática da campanha de Lula em 2002, trazendo parte do centrismo ao PT, mais a emergência de uma geração que se frustrara com o PSDB, foi a simbiose adequada para iniciar essa era PT de já 12 anos.
    E a nova geração? Bem, fiz menção ao fato do tempo haver sofrido compressão. Tomemos um jovem nascido em 94 - ano do Plano Real, jovem demais para ver sua queda de forma mais elaborada e que viu a vida de seus pais não exatamente rósea a partir de 1999. Ainda jovem demais viu Lula vencer, em 2002, aos 8 anos. Aos 12 viu sua primeira rodada terminar e assistiu a reeleição. Daí vivenciou, dos 12 aos 16, uma era de prosperidade. Foi ali que encontrou a candidata de Lula, com a promessa de continuar. Dilma venceu não apenas pela incorporação, mas também porque havia uma geração que ouvia e vivenciara outras perspectivas. Sua "voz", parodiando Hirschman, chegou ali e se sentia representada; a opção de "saída" não era viável para a maioria. Eleger Serra era, para parte relevante dessa geração, um risco maior. Mas essa geração - que cresceu em idade mais reflexiva apenas no período em que o PT permaneceu no poder - não tem suas demandas estacionadas.
    Claro que isso não significa que o PT era invencível ou recebia uma maioria acachapante. Não, mas como era rejeitado pelas elites econômicas, os setores médios tradicionais (muitos oriundos da geração de 74 e antes, que temiam o PT "original") acreditando ter seu "modo de vida" ameaçado por integrantes emergentes abaixo no espectro social e  uma parcela conservadora que sempre sobrevive no Brasil (conservadora em termos moral/religiosos e em parte do ponto de vista econômico), vem permitindo sempre a presença de outra candidatura polar no segundo turno. De seus meros 10% do eleitorado na criação, à média de 30% na partida, hoje, o PT conquistou uma geração, mas não vence com facilidade. Portanto, Não há surpresa na polarização em nenhuma eleição e as viúvas que choram a divisão hoje o fazem por mero drama, não por informação reflexiva.
    Então surgiram as jornadas de junho de 2013. Jovens nas ruas, alguns também na meia idade, cantando, difusos nas reivindicações, mas com um sentimento real de insatisfação. Qual geração ali está em 2013? Quem nasceu entre 1990 e 1997, na sua maioria. Trata-se da "juventude liberal", do clube "Von Mises", da Associação Cristã de Moços ou da "Marcha para Jesus" ou pela "Família"? Nada disso. Era simplesmente "queremos mais"; era somente demand overload, de alguma forma o copo estava transbordando por mais mudança. Podem ser feitos esforços para o  apelo a um movimento mais universal por outro política, essa interpretação messiânica de um processo sem atores, um movimento hegeliano e totalizante. Creio que são virtualmente pouco explicativos à luz dos dados que temos hoje.
    Mais saúde, educação, moradia, transporte de qualidade ou ética nunca foram monopólio - antes pelo contrário - da direita ou dos liberais que tentaram desmontar nosso breve sistema de bem-estar social. A esquerda, ou a centro-esquerda, foi quem sempre operou nesse campo com desenvoltura. E aqui vem o drama: o PT, que foi caudatário de grandes mudanças, havia se desconectado dessa geração porque embrenhou-se no jogo da governabilidade sem dosar suas relações de capilaridade para a sociedade organizada e essa emergência de outros atores. Se a oposição  a Dilma não capturou esse público o governo atual também não conseguiu construir pontes. 
     Assim chegamos a 2014. A trágica morte de Eduardo Campos é um interregno que catapultou uma candidata - anti-política, afastada do jogo, candidamente surgindo como diferente - para o centro do palco. A parte descontente, parte relevante do eleitorado, começa a movimentar-se quase como o "efeito-manada" das bolsas de valores. Foi e, uma vez o debate exposto e as fragilidades vistas, vem se reacomodando. Marina cai e Aécio avança para compor o outro pólo. Pode não haver tempo para Aécio, mas nunca se deve subestimar os desesperados. Certo é que o cenário da polaridade aí está, mesmo com a sra. Silva. Se Dilma vencer no primeiro turno, e acho difícil (não impossível, mas difícil) por tudo que escrevi acima, renovará sua força, mas grande parte dos problemas ainda estarão lá e as pressões se intensificarão. Já que o PT, a cada eleição, precisa voltar-se para a centro-esquerda  - é ali que estão os seus - porque não faz um governo afinado com isso? Pouparia tempo e saberíamos com clareza o que defende. O argumento de que não é possível é porque ele se fia em uma aliança monstruosa em tamanho e características. Uma maioria sólida e menos caótica não é mais aceitável? Capilarizar na sociedade e pressionar de fora para dentro não seria um caminho? Perdeu-se muito tempo com alianças pela governabilidade. Necessárias são, mas tentando controlar dois terços de outro poder? 
    Chegamos à semana da eleição. Há um novo ator geracional decidindo o processo, para além  dos já maduros pais e sem conhecer outro pais que não aquele onde cresceu. Nã assistiu ao fim do período militar, não viu a hiperinflação, nem sonhou cm uma globalização sorridente, como nos anos 90. Sua hora chegou, aqueles que vibraram com as jornadas de junho e agora, diante das instituições da democracia e dos atores políticos, precisa se manifestar. Espero sinceramente que se reconheçam em um pais melhor e prefiram olhar para a frente com aqueles que ajudaram a construir esse ponto de partida. Chega do ranço dos anos neoliberais ou de um ecologismo bíblico com reformas de mercado. Querer mais é muito necessário: podemos começar com quem pode nos oferecer mais.

domingo, 28 de setembro de 2014

Para tudo acabar no dia 5 - OU NÃO!

     Pela segunda semana, a candidatura Dilma Roussef suspirou de satisfação. Todos os institutos mostraram seu crescimento, a regressão da sra. Silva e a estagnação do sr. Neves. O IBOPE havia encontrado Neves com 19% desde a semana passada - nos demais patinava em torno de 17%. Pela última "super amostra"do Datafolha - mais de 11000 entrevistas - se Dilma obter entre 5% e 6% dos indecisos ou da flutuação de votos que flui de Marina e podem abandonar Aécio, ela venceria no primeiro turno. Acontecerá? Muito difícil prever, eu particularmente não acredito, mas seria algo tão estrondoso que mereceria páginas e páginas de reflexão. 
     Senão vejamos. Dilma passou três dos seus quatro anos diante da mais implacável máquina midiática contrária ao seu governo, os levantamentos realizados em manchetes e chamadas de TV comprovam facilmente isso, caso do Manchetômetro como pode ser visto aqui. A menos que os delirantes acreditem que este site, oriundo de um grupo de pesquisa do IESP seja formado por membros do comitê de Dilma ou "comunistas mentirosos", o implacável cerco seria sinal claro dos seus problemas em se reeleger. Lula havia enfrentado cerco semelhante, mas parece que com Dilma a loucura da mídia desenvolve requintes de crueldade. E a presidente começou afagando esses meios, defendendo a imprensa, sem nunca enfrentar fortemente seus detratores. Entendo ... mas não aceito como argumento que um setor da sociedade que afeta milhões de pessoas possa se comportar como partido de oposição e que, no Brasil, o dispositivo constitucional que trata da concentração de poder, bem como uma lei que garanta direito de resposta contra assassinato de reputações, não possam ser discutidos pela sociedade democrática.
    Com tudo isso, essa mídia parece incapaz de fornecer qualquer combustível para criar candidaturas de oposição ou alavancas opções. Vejamos o sr, Neves: é candidato há mais de um ano, elogiado pelo ex-presidente Fernando Henrique (que horas ele aparecerá na TV?), com cobertura favorável. Seja por ser uma personalidade limítrofe, seja quase por não ter nome próprio, seja pela força que a imprensa lhe confere, este parece estar navegando em águas revoltas e contra a maré. Desafio qualquer eleitor a apresentar três, apenas três, ideias ORIGINAIS do candidato Neves. Não valem as ideias que ele tira de realizações dos últimos governos de Lula e Dilma. Difícil? Imposssível: comportar-se como coroinha anti-corrupção e detentor de "medidas impopulares" não facilita ninguém. Que fazer com um candidato assim? Apenas ser o anti-PT? Para seus eleitores, todos os 17%, sim. Felizmente o Brasil é muito maior que isso.
     A sra. Silva parece carecer de mais problemas. Da mesma forma, vale o desafio das três ideias originais, mas de sua lavra. Não valem declarações dos doutores Gianetti e Rands sobre choques ortodoxos e Banco Central. Marina não é isso, ela repete isso! Sobre "originalidade" é melhor ouvi-la pregando, como aqui, onde o discurso é repetitivo, lido ou balbuciado e com um certo ar messiânico. O que ela pensa sinceramente sobre política externa? Sobre as grandes obras de infra-estrutura? Sobre política social? Ou mesmo sobre a Amazônia? Suas ida se vindas de acordo com a conveniência são piadas circulando na internet. Qual segurança ela transmite? Com tudo isso, ela permanece em torno de 27%. Existem aqui vários componentes: ódio ao PT, a comoção pelo trágico desaparecimento de Campos e uma difusa defesa da mudança e da anti-política. Há eleitores para este discurso, alguns já abandonaram Neves em nome dele, alguns abandonaram Dilma, outros a sra. Silva trouxe do baú de sua última candidatura.
     Dilma, por sua vez, tem um governo para mostrar. Sim, mostrar agora, porque a mídia lhe negou isso durante todo o tempo. Tem também políticas sociais e ações, tem o Brasil que se livrou da fome (segundo a FAO), tem programas em educação e saúde. Ela parte de um patamar melhor. Não precisa pregar ou gritar impropérios, como um Carlos Lacerda sem a mesma retórica ou inteligência; não precisa apelar à providência (ou ao Gianetti) para encontrar inspiração. 
   A mensagem da semana, se observarmos a campanha, é de mudança mas também de muita continuidade. Nas ruas, campanha insossa, na internet com as disputas de sempre nos grupos de sempre, na mídia permanece a fabricação de versões sem fatos. Nas pesquisas, Dilma cresceu além da margem, voltando ao patamar de 40% que é próximo do máximo que atingiu ao longo de quase um ano de levantamentos. A boa notícia para ela é que subiu consistentemente e o gráfico de sua evolução tornou-se uma "boca de jacaré", com o maxilar superior subindo e o inferior apontando para baixo. 
    Em um cenário desdramatizado nas ruas, um certo enfado com a campanha, o eleitor parece também um pouco cansado com o desenrolar desses dias. Para ouvir Neves, de cada 10 palavras em uma frase usar o PT algo como 7 vezes; para ouvir Marina ir e vir (e se decepcionar com sua tibieza) ou ouvir Dilma que diz que vai mudar mais, é compreensível uma certa impaciência. Melhor para Dilma, nesse caso. Está na frente, conta com o apoio de Lula, tem fatos a mostrar. Seu eleitorado, de alguma forma migrante para outro projeto quando surgiu a sra. Silva, voltou - e voltou quase todo, observemos, bem como a rejeição dos demais subiu. Uma leve olhada no histórico das pesquisas IBOPE ou Datafolha em 2014 mostra que o sr. Neves chegou a 21% - 22%. Com sua exposição atual, diária, na mídia e com retrato nas ruas, ele tem 17% - 19% hoje nos mesmos institutos. Crescimento? Nenhum importante. Foi a sra. Silva que o derrubou? Em parte foi, roubando eleitores. Mas a campanha que o PSDB faz não é somente sofrível - o candidato também o é. Crise de identidade: alçado à presidência como ministro de Itamar, Fernando Henrique não pode aparecer nas campanhas e terminou seu mandato de forma melancólica. Que fazer com o condomínio PSDB/DEM/PPS se não existe projeto nenhum para o pais ou para apresentar decentemente ao eleitorado? Terrorismo econômico e moralismo pós-udenista é muito pouco. 
     A sra. Silva chegou a 20% do eleitorado em 2010 e despontou como promessa. Em 4 anos não foi capaz de formar o partido que queria e nunca participou de momentos decisivos do debate nacional nesse mesmo período. Nada, nenhuma ideia. Por que não discutiu antes seus projetos neoliberais de ajuste estrutural e independência plena do BC? Por que não participou do debate sobre democratização e crise de representação pós junho/2013? 
     Por isso Dilma recuperou suas perdas e até pode, mesmo que eu não acredite muito, vencer no primeiro turno. Menos ambiguidade, menos insegurança para a população, mantém a rota de mudança iniciada com Lula. É isso. O resto são seus detratores: o mercado financeiro e os bancos privados - logo eles, que foram afagados esses anos; a elite econômica economicida e contra "gente diferenciada"; a mídia que se comporta sem escrúpulos e irremediavelmente irresponsável, militares de pijama saudosos de sabe-se lá o que. Mas há também um grupo de cidadãos que quer ser ouvido e considera seu governo com problemas, a precisar esclarecer ações, um grupo de pessoas que emergiu e quer mais, uma geração nova. Esses merecem respeito e ações. Cabe ao governo atual entender isso e ouvir a sociedade, que mais deseja manter seu desenvolvimento que voltar ao passado. O sr. Neves não entendeu isso, ainda que tenha boas chances de ir ao segundo turno; a sra. Silva entendeu, mas parece não ter respondido a altura. Será que esse eleitorado passou a acreditar que com Dilma  o caminho é mais seguro? Se ela encerrar o próximo domingo sem a segunda rodada, temos a resposta. Se ela não o fizer, o embate vai para um segundo turno onde o tema será, mesmo indiretamente, essa nova geração que chegou e até influencia seus pais.

(Este tema de uma nova geração é apaixonante. Escreverei sobre isso essa semana).

    

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Porque voto em Dilma Roussef

Nos últimos anos o Brasil iniciou uma rota de desenvolvimento que já produziu efeitos muito fortes no conjunto dos indicadores sociais e macroeconômicos. Se compararmos o ano de 2002, o último do professor Cardoso, com 2014, não há um índice sequer que possa ser apresentado hoje que esteja em situação inferior àquele triste momento da trajetória brasileira. Inflação, câmbio, dívida pública, relação dívida/PIB, taxa de investimento, a taxa de emprego, índice de formalização da força de trabalho e alhures, acrescidos do índice de Gini, salário médio, política de salário mínimo, contas previdenciárias e programas sociais, somente um desavisado, cego pela paixão partidária ou ódio, moralista de caserna e/ou indignado seletivo pode imaginar que o Brasil de hoje está em um patamar inferior às aventuras liberais dos anos de 1990 e que Dilma está mostrando um país pior que aquele de seu antecessor, justamente o que iniciou a trajetória de já doze anos de mudança. Mesmo com velocidade ainda baixa, a educação apresenta melhorias, mas pode avançar muito mais. A saúde debate-se com o gigantesco projeto de universalizar atendimento, conter o apetite privado e chegar a todos os cantos do país, mesmo importando médicos. Sim, o PIB vem crescendo pouco, a taxa de juros ainda é muito alta, a questão do câmbio e da poupança interna são temas sim de debate e a velocidade da queda da desigualdade não é mais tão espetacular. Mas o Brasil de 2014 está, em uma trajetória de melhorias, a anos-luz do Brasil de 2002.
O projeto atual de desenvolvimento envolve temas como a constituição de um mercado sólido de consumo de massas, bancos públicos em ação anticíclica e como agentes de provimento de crédito, o BNDES sendo parte de uma estratégia de financiamento de empresas e de empreendimentos aqui e no exterior alavancando negócios e investimentos, a Petrobrás gerenciando a maior parte das maiores reservas de petróleo descobertas nos últimos anos. Marcos regulatórios importantes como o do setor elétrico, as obras de infraestrutura e a constituição de compras governamentais, incentivos à produção de conteúdo nacional e políticas de concessão de serviços, mais o estímulo à política industrial e aumento dos investimentos em pesquisa, indicam outro patamar de debate.
Houve mudanças na vida social ao ponto de produzir um relevante movimento para cima, trazendo à cidadania e ao próprio mercado um contingente muito apreciável de homens e mulheres. Este grupo agora mudou de patamar e espera mais, ele olha para o espelho e não mais se vê como o pobre ou envergonhado que não via futuro, ou preferia migrar em busca de emprego. Filhos tem trajetória superior às dos pais, e querem mais. Chegaram ao fim da adolescência em outro país. E querem mais. É justo e é da democracia. Agora podem reivindicar: em 2001 ele podia apenas esperar uma migalha ou o desemprego em um país estagnado e com inflação mais alta que os últimos anos. 
Dilma não enfrentou o monopólio de mídia, não corrigiu a rota dos juros, perdeu parte da confiança de alguns setores industriais e poderia aprofundar mais sua política de direitos e mesmo avançar mais na universalização de políticas sociais. Mas, os passos dados até aqui não podem cessar. Aécio Neves pode aprofundar isso e continuar com nossa trajetória de desenvolvimento? De forma alguma: ele inventou a máquina do tempo para 1995 ou 1999, com seu subinvestimento e desmonte estatal. Marina? Não se sabe direito o que pensa e sua visão de mundo combina mundo bíblico, ecologismo e neoliberalismo, sem que ninguém saiba exatamente como essas forças convivem ou poderão conviver. Marina não faz campanha: prega. Desconfia da ciência e da política. Se segue seus consultores de economia, retornamos ao tempo de FH, Malan e Armínio com ajuste fiscal draconiano, desemprego, contenção de gastos sociais. Se enveredar pelo campo dos avanços sociais desagrada seus parceiros e apoiadores do mercado. Como vai e vem, terminará indo para algum lugar ruim, pois parece ter a ilusão de que governaria com o “melhor de cada partido” e, ao mesmo tempo, sem negociar pelo que ela vagamente chama de “nova política” (com quem? Onde, de que forma?).
Somente Dilma pode, nessa conjuntura, permanecer à frente de um projeto de desenvolvimento dinâmico e inclusivo, pode seguir aprofundando-o. Quem sabe superar os temores em relação à mídia e aos rentistas, quem sabe aprofundando o diálogo social e com o empresariado, ouvindo as forças sociais e virando seu governo à esquerda,remando contra a maré de um vento que vem do passado e ameaça a todos nós com a receita da ortodoxia, do conservadorismo, de uma economia com inserção passiva no mercado internacional e uma política externa de costas para a América Latina, a Ásia e os novos parceiros estratégicos no G20.
O momento não permite hesitação. A conta é excessivamente alta e o risco altíssimo. Dilma é a esperança de aprofundar o que os governos do PT e das forças progressistas permitiram nos últimos 12 anos, ultrapassando todos os indicadores dos 12 anos anteriores a Lula. Votar Dilma é votar com a esperança de quem quer mais, muito mais, olhando, como disse Roosevelt na década de 30, para o fundo da pirâmide econômica, para a tradição que remonta aos governos trabalhistas de Vargas e os desenvolvimentistas como Celso Furtado, para aquilo que o presidente Lula denominava um novo Brasil para todos os brasileiros. Aécio ou Marina? Espero que nunca mais. No dia 5 a esperança pode começar a renascer e Dilma carrega seu nome – com aqueles milhões de brasileiros que conseguem enxergar outro horizonte.