domingo, 31 de agosto de 2014

De volta - A rodada das eleições 2014, impressões do final de agosto/2014.

Estive longo tempo ausente daqui. Reconheço que o pior problema dos blogs é mantê-los, se você não vive dessa função. Mas tentarei voltar para resguardar espaço para a rodada eleitoral 2014. O Facebook tem sido um caminho que utilizo. Reunirei abaixo três postagens recentes - de 27 e 28 de agosto e uma de 31 de agosto. O tema é a conjuntura, mas particularmente algumas críticas e ponderações sobre a senhora Marina Silva.
Seguem, pela ordem cronológica:

31 de agosto
Os analistas da bolsa observam vezes muitas um fenômeno conhecido como efeito- manada. Não é segredo que muitas vezes ele ocorre também na política; às vezes imagino que até mais. Fernando Henrique, como exemplo, o vivenciou na campanha de 1994 - aquela do plano real, campanha onde Lula falou aos surdos e, de certa forma, também em 1998. No caso, houve apenas uma liderança distanciada e nenhuma virada. Agora a senhora Marina Silva vem se beneficiando de um efeito-manada. Observemos: ela infiltra-se no PSB porque lá garantiria um posto importante para o partido que, de forma absolutamente incompetente, não conseguiu criar. Até o Paulinho da força criou o seu e a invenção da aliança PSDB-DEM de SP, Gilberto Kassab, o fez um pouco antes. Após a entrada na chapa que "queria mais"de Eduardo Campos, lá ficou em hibernação. Com a infeliz morte de Campos, ela saiu do esconderijo e, em uma semana torna-se candidata. Uma parte do PSB não quer, mas fazer o que? Em cerca de uma semana tudo gira ao seu redor: ela ganha coordenação de campanha, vice esquisito com apoios esqusiitos, progama coordenado por acionista do Itau, apoios religiosos e outros nem tanto. Saiu dos 8% de Campos para 20% no inacreditável datafolha da boca de túmulo e chegou já perto de 30% no Ibope. O péssimo quadro que é Aécio Neves - ainda que melhor que Marina, dado seu chao partidário e a base mais racional de debate - parece ter desaparecido ou estar em vias de. Versão de "amigos" (com esses eu romperia) dá sinais de que poderia desalojar a campanha sonolenta de Pimenta da Veiga e ser candidato em MInas. Deve ser boato, pois isso seria um atestado de suicídio, mas abriria-se o canal para Marina plebiscitar a eleição segundo seu evangelho e o PSDB marcharia para apoiá-la, exatamente como namorou com Collor no passado durante seu desgoverno. O fato de que isso seria um redutor de bancada na Câmara e no Senado deve pesar na decisão dos tucanos .... ou deveria!
E DIlma?? Bem, o sinal amarelou de vez. Os termos de sua campanha, montada para enfrentar Aécio, precisa mudar agora. Agora não basta ter feito muito, mas muito mais nos últimos 12 anos que outros em 8. Não basta mostrar a redução da desigualdade, dos enormes investimentos sociais, o mais médicos, as universidades, o PRONATEC. Os eleitores que chegaram agora, reduzindo os indecisos dramaticamente, não a desejam ou porque odeiam o PT (isso existe em uma parcela do eleitorado), ou querem algo vagamente novo (dado os limites do sistema político formal e uma insatisfação difusa) ou votavam em Aécio porque não queriam Dilma. Agora a concretude de Dilma é sua adversária; o mundo simbólico, da candidata "encolhida", humilde, incompreendida e contra "o que está ai" é que veio ao cenário. Contra isso, a luta é muito mais complexa, pois a racionalidade técnica não é adversária para a ética de convicção que atende aos apelos difusos e a combinação exdrúxula de verdismo com capital financeiro, de menções anti-crescimento com sustentabilidade. A Petrobrás voltou a roda ... com restrições de Marina ao Pré-Sal; seus assesores criticam o BNDES, gastos públicos sociais e em investimento direto e falam em retomar fortes superávits primários. Foi para isso que passamos 12 anos? Para tudo retornar como farsa, com roupagem verde?
DIlma é prisioneira de seus erros. É hora de corrigí-los olhando para quem sempre a apoiou. Seu caminho é pela esquerda, não existe escapatória. O pacto que Lula inaugurou - com setores médios e parte da burguesia industrial - não pode mais ser retomado nas mesmas bases. É hora de olhar mais para baixo e para o meio, para setores emergentes retomar interlocutores e criar bandeiras em defesa da produção de bem-estar e contra o rentismo do arrocho. E tornar-se forte, firme, nominar as pessoas e as coisas pelo que elas são. O cavalo de tróia do conservadorismo econômco está chegando. É hora de barrá-lo. É enfrentar os adversários mostrando o que pode ser feito e o que essa candidata dos bancos, de parte do agronegócio e da indústria de SP e alguns outros lugares (Indústra asfixiada e que vai ficar ainda mais se nada acontecer) e das elites politicas conservadoras e neoconservadoras, sem contar a direita religiosa.
Giostaria mesmo que Dilma se lembrasse de Brizola. Ela começou no PDT e uma vez ela falou de sua importância. Lembra como Brizola tratava seus adversários, DIlma? Lembra-se desse vídeo?
https://www.youtube.com/watch?v=SGNGgkII2lU

Aqui não trata-se de uma "filhote" da ditadura. Sua origem é mais honrada. Mas seu futuro, o cheque me branco que pede dada sua falta de ideias, ou sua ocultação, nos faz lembrar os anos de bronze (pois de chumbo eram aqueles da ditadura) da hegemonia FHC, Paulo Renato, Malan, Serjão,Armínio, Antonio Carlos e Borhausen. Por favor, de novo não! Merecemos mais que isso.


28 de agosto:
Muito se tem falado sobre Marina haver mencionado as elites e observado Chico Mendes como tal. O campo teórico onde isso se localiza é a teoria das elites e, sim, a candidata tem razão. Mas, como todos que empregam essa linguagem, com a qual pode-se identificar e interpretar o mundo, é preciso qualificar melhor a fala. O que ela não faz. O discurso foi para desviar a atenção de si própria e da crítica ao apoio que recebe de parte das elites econômicas (parte expressiva) e de parte das elites políticas tradicionais (esquisito para quem apoia uma "nova política"). Não é nada sofisticado. Aliás, por falar em campo teórico, seria bom que Marina lesse sobre etnometodologia ... talvez ajudasse mais. Mas ela não terá tempo. Discutir o programa de governo com as elites que a apoiam dará muito trabalho e a Neca e o Gianetti são exigentes. E sobre a "nova política" e os economistas liberais que a apoiam: se ela romper com eles, mergulha no caos; se os apoiar, o país regride. Isso é opção?
_____________
Li agora cedo um post onde se falava em uma "central" contra Marina e em blogs "chapa-branca". Agora que o debate começou e Marina vai descer do altar, busca-se interditar o debate como se ela fosse caluniada e vilipendiada. Não tenho o menor interesse em caluniar Marina Silva, a respeito como candidata, mas abomino sua falta de consistência e competência política, suas ideias vazias e sua ideologia conservadora em termos econômicos e comportamentais. Não faço parte de nenhuma "central", não tenho interesse nenhum em interditar o debate e me reservo o direito de opinar e não gostar de sua "santidade". Se o país preferir um cheque em branco (com Marina) ou o passado é uma decisão do jogo. Mas começar a espalhar boatos sobre "centrais" (Aécio fazia a mesma coisa, chegou a pedir que sites fossem censurados por isso), mostrar incompreensão sobre a "corrupção" na Petrobrás (por que ela sempre volta, mesmo sendo a maior empresa da América latina e possuir uma das maiores reservas de petróleo do planeta?) e repetir o mantra de que "ninguém aguenta mais" (não aguenta o que exatamente? A "inflação"? ou outra coisa?), não ajuda em nada o debate entre sujeitos civilizados. Se as pessoas não desejarem votar em Dilma podem fazê-lo por múltiplas razões. Mas, por favor, pelo menos com argumentos mais sólidos. Ontem tb li um post interessante onde falava-se em um sentimento difuso de voto em Marina Silva. Pode ser. Eu espero que essa sensação de mal-estar possa passar. Quem não aguentaria mais outro tempo com os grandes economistas e bancos que apoiam qualquer um contra Dilma sou eu e alguns outros milhões. Espero que possamos obter maioria. Mas o debate deve ser mantido nos limites da racionalidade: "centrais", "blogs chapa-branca", atacar a Petrobrás ou falar em inflação descontrolada que não existe ajuda apenas como retórica distorcida. Aliás, se existem blogs chapa-branca a grande imprensa é o que? Um folheto da missa, ops, culto????

27 de agosto:
Ontem saiu uma pesquisa IBOPE mostrando que, HOJE, Aécio estaria abatido em vôo e Marina venceria as eleições. Sim, lá diz que Marina venceria! Ressalto HOJE, porque pesquisa é captação de movimento. Explico: nesse momento da campanha eleitoral são aceitáveis movimentos, alguns mais largos outros mais estreitos, na morfologia de voto. A julgar pelo IBOPE, houve um deslocamento morfológico de MILHÕES E MILHÕES DE VOTOS em menos de 2 semanas, retirando algo como 4% de Aécio, 4% de Dilma e mais de 6% dos indecisos. Na margem de erro, ela encosta em Dilma. Não sou daqueles que demonizam o IBOPE, mas há muitos meios de perguntar e captar movimentos. Não tenho certeza do que fez o Instituto, mas é pouco provável que um movimento tão violento tenha ocorrido com tal velocidade. É possível? É! É muito provável? Não tenho certeza nenhuma disso. Vai permanecer e crescer? Não creio. E por que? Porque precisamos nos debruçar sobre uma explicação.
Não é movimento puro e simples, é tectônico. A julgar pelo resultado, havia um movimento profundo no tecido social contra os candidatos e naqueles que não desejavam mesmo votar. Depois que o Datafolha fez das suas inaugurando a pesquisa de boca de túmulo, o IBOPE foi a campo (com metodologia relativamente diferente do datafolha, como sempre fez) e captou uma rebelião em favor da seringueira dos bancos. Escrevo isso por ironia mesmo, porque creio que Marina é um atraso, obscurantismo, servil ao modelo representado pelo rentismo e não apresenta nenhuma ideia sobre o que seria seu governo. Dilma tem o que mostrar; Aécio representa, com toda sua personalidade limítrofe, algo mais racional como programa e Marina, bem, Marina "não quer desistir do Brasil". Alguns dizem que ela escapou do ódio das "jornadas de junho". É suficiente? Não sei. De onde vem os votos? Do Brasil mais profundo, dos mais ou menos escolarizados? Qual o grau de conhecimento dos candidatos entre os eleitores? A questão é uma pergunta que os Institutos fazem e não vemos a resposta: "o sr/sra já decidiu seu voto ou pode alterá-lo até as eleições"? Com variações, mas esse é o espírito da questão . A avaliação do governo não caiu (variou positivamente na margem de erro), nem a rejeição se alterou tanto. A surpresa é que a candidata do Itau tenha apenas 10% de rejeição. Não me lembro de outros levantamentos, agora, para comparar. Enfim, ao invés de comemorar ou odiar resultados é hora de pensar, dando alguma confiança ao levantamento do IBOPE (minha boa vontade kantiana), tentar compreender o que aconteceu. Isso não muda opções de voto, mas evita fazer comentários idiotas citando inflação, corrupçao ou colunistas da veja, da folha, do globo ou do estado. Por hora Marina é um pastel de vento que está inflando ... será que fura???

___________

O debate político resvala para a irracionalidade, que de resto não é estranha a nenhum processo eleitoral disputado. Há algum tempo ouvimos falar em "inflação". Mas espere: inflação descontrolada, cesta básica subindo descontroladamente? Mas FHC entregou o país com inflação duas vezes maior e não se dizia isso. Certo, o crescimento é baixíssimo. Mas como ignorar que a taxa de emprego é alta? Volta o argumento: sim, mas o emprego é de baixa qualidade. Pode ser verdade para muitos empregos, mas, e a renda? Ela caiu? Entendo as dúvidas sobre Dilma: menos diálogo e mais decisão top down, mas daí a criar uma crise estratosférica, vai longe. Aécio é um dos piores quadros competitivos - e são poucos - do PSDB: limítrofe em opiniões, raso e sem imaginação. Marina Silva não é apenas uma, mas duas incógnitas: ambientalismo próximo dos bancos e renovação com Borhausen e Heráclito Fortes. E com a ilusão do fim do "presidencialismo de coalizão". Ela está em todas as manchetes, primeiras páginas, páginas internas, páginas principais e telejornais. Diz que não faz proselitismo religioso, mas é contra o aborto, o casamento homoafetivo e alhures POR MOTIVOS RELIGIOSOS. Então surgem os idiotas de plantão e encontram nela uma tábua de salvação (porque Aécio é um desastre), começando a afirmar que os petistas se desnortearam, que as pessoas simplificam a realidade, que os blogs são financiados pelo governo ... Os leitores médios da Veja saíram todos do armário, com aqueles que citam Josias de Souza, Fernando Rodrigues,Noblat, Merval, o obscurantismo do Reinaldo ou a simples cegueira idiota de Constantino, sem contar a cobertura do "Estado" (de SP, o de Minas é um lixo alinhado a Aécio) sobre as eleições. Encontraram a verdadeira anti-petista. E depois é "simplificação" ver o processo, do ponto de vista das elites econômicas e de parte das elites políticas, como para superar um projeto de desenvolvimento e retornar com outra perspectiva. Ou Marina não é coordenada pela herdeira do Itau, não é assessorada por Gianetti e Lara Rezende e Aécio não se abraça a Armínio Fraga? É ilusão? São os "blogs de dinheiro público" que dizem? Até os blogs do mercado dizem isso, e com satisfação.
As pessoas devem votar com sua consciência e seu juízo. Mas votar contra um projeto porque tem "inflação descontrolada", "corrupção" (só de um lado?), contra "tudo que está aí" ,não deveria ser motivo. Aliás, duas perguntas: pensando com alguma frieza (somente alguma): por que tanto ódio contra Dilma? Marina Silva e Aécio estão com exatamente quais ideias? Porque "poupança jovem" (perguntem em Minas como é isso!) e essa pieguice de "não vamos desistir do Brasil" é muito, mas muito pouco.