segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A título de uma avaliação "a quente" - o 1° turno das Eleições Municipais

A eleição municipal passou, ou pelo menos seu primeiro turno. Este pleito foi eivado, por todo o país, de dúvidas quanto ao impacto da ação 470, de uma derrocada do PT e seus aliados, de uma revanche da oposição, do surgimento de novas lideranças. Ledo engano. Senão vejamos:
- confundir eleições municipais com o cenário nacional vem sendo um equívoco repetido ano após ano. Se existe apoio de liderança nacional a um candidato(a) este subsiste pela força do apoiador, não pelo temário político mais geral;
- como correlato, esperar que a ação 470 se manifestasse como deus ex machina e favorecesse a oposição ao PT era um desejo ... e só. Foi somente isso mesmo;
- urnas abertas e o PT permanece sendo o único partido que, ao longo de sua trajetória, continua mantendo o crescimento no número de cidades que administra. Já o DEM (em particular) e o PSDB precisam refletir sobre suas ações e equívocos. Em Curitiba a paróquia tucana expulsou Fruet do quadro e, como prêmio, ficou fora do segundo turno. Para o PT, duas derrotas importantes: o desastre Humberto Costa e em Porto Alegre. Em Recife perde pelos percalços de sua aliança, em Porto para o PDT. Detalhe importante: nada de PSDB ou DEM com relevância neste quadro. 
- não é somente isso. Aumentou o número de eleitores enquanto o PSDB, se perder em São Paulo, aumentará sua frustração;
- Belo Horizonte é uma vitória de Aécio? Em termos. Marcio Lacerda é uma criatura sua e de Pimentel. Imagino como o PT de lá lamenta agora. E Patrus até ameaçou no final ... Mesmo sendo apoiado pelo ex-governador, Márcio é do PSB. E, para mostrar a complexidade da questão em relação ao papel do ex-governador, seus interesses foram contrariados nos maiores colégios do Estado - Uberlândia, Juiz de Fora, Governador Valadares, talvez em Montes Claros, em Uberaba, em Contagem, Ipatinga ... e na sua cidade natal, S.João de Rey onde o PT venceu. Ah, sim, ele apoiou o vencedor em Betim.
- O PSB indubitavelmente cresceu, e tornou Eduardo Campos o interesse da vez. O ex´presidente Cardoso já declarou a necessidade de se aproximar dele. O senso de oportunidade de Cardoso anda um tanto fora de sintonia, uma vez que esta declaração apoiando os "socialistas" foi muito rápida. Aécio corteja Campos há meses. O quadro é difícil porque Campos diz apoiar Dilma na reeleição e o PSB ser um partido importante da base. Márcio Lacerda recebeu algumas pressões e agora o apoio do PSB ao PT em São Paulo deve estar claro. Ah sim e Campos tem projeto próprio para 2018;
- Lula, que é defenestrado ao inferno por muitos (do lixo midiático, mas também por Ferreira Gullar), de certa forma fez duas apostas difíceis: Recife, onde claramente perdeu, e Belo Horizonte, onde perde em parte. Em BH, entretanto, Lacerda esteve sempre perto dos 50%, já Patrus cresceu de forma consistente durante a campanha. Mas, fora isso, ajudar a empurrar Haddad ladeira acima foi uma demonstração de força, mesmo com os mérito do candidato. E existem casos interessantes no interior: como Haddad, Marcio Pochman, professor da UNICAMP e ex-presidente do IPEA, estreou em um pleito e foi ao segundo turno em Campinas, enfrentando lá o PSB. Lula também incentivou e passeou por lá.
- Já no Rio, que me desculpem meus amigos, Paes foi passear na eleição mesmo com todos os seus defeitos, alguns muito nítidos. Freixo apresentou-se como liderança. Esperemos que não faça como Marina Silva, a "vitoriosa" (para a imprensa e os neoverdes de plantão) na eleição presidencial passada que virou suco no liquidificador da política brasileira e foi reduzida à dimensão eleitoral que tem.
- São Paulo terá a "mãe de todas as batalhas". Aqui se digladiam os pares dicotômicos da política nacional e onde o PSDB trava uma luta sobre si mesmo. Serra novamente, com 45% de rejeição e 31% do eleitorado contra os 15% de rejeição de Haddad e 30% do eleitorado. No jogo entram Russomano, com sua fluida base de apoio que "derreteu" na campanha, e Chalita. Soninha e Paulinho onde sempre estiveram: com nada e coisa alguma, ainda que Soninha seja Serra convicta e Paulinho ... sei lá. Aqui voltarão o mensalão (que não foi personagem no 1° turno), descalabros religiosos, grosserias nas ruas e a costumeira "cobertura" da imprensa paulistana. Se Haddad vencer, Lula, Dilma, Haddad e o PT em geral sairão ainda mais fortes - e o PSDB com mais feridas e com um projeto menor. Se Serra vencer ele pode abandonar a Prefeitura de novo em 2014 para seu voo presidencial (chocando-se com Aécio e, quem sabe, Alckmin). Mas, a cidade de São Paulo, que o rejeita tanto e que lhe impôs uma derrota nas cercanias de toda a cidade, permitirá sua vitória? Pode ser, o microcosmo paulistano diz muito ao imaginário político e jamais deve-se subestimar a política amigo/inimigo de Serra (quem sabe um leitor de Carl Schmidt?) ou a verve irônica e furiosa do PT (sua irresistível combinação de Maquiavel e Rousseau) que irrita seus adversários e incentiva seus defensores.
Escrever um dia depois tem seus riscos. Mas é um mero exercício em cenários onde muito se tem a dizer. Foi uma eleição de rupturas? De forma alguma. Com forças inovadoras? Certamente em alguns lugares, não na média geral. Foi mais um capítulo na rotinização da democracia, o que muitos odeiam.
Em breve publico mais um pouco sobre isso. Com pitadas provinciais ...

6 comentários:

  1. Caro Condé, só discordo de uma coisa. As eleições municipais, quando consideradas num quadro geral, dizem muito sim do cenário nacional. A força do Lula e do PT como partido permite que candidatos sem nenhuma história, em cidades médias e grandes, e eventualmente até em pequenas, surjam e disputem diretamente o poder. As eleições desse ano consolidam a força do PT como partido que se capilarizou, pois seu crescimento se deu sob fogo cerradíssimo da mídia. Isso é reflexo da política nacional e de sua identificação como partido popular, defensor das causas dos pobres.

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  2. Gustavo, como vai? Minha posição é que o papel da liderança, neste caso,é mais forte que o partido, sendo o pano de fundo nacional pouco estimulador do voto geral exceto para eleitores muito "sintonizados". Concordo cm a capilaridade do PT, até porque o mencionado "fogo cerrado" da mídia foi tão intenso nessa como contra Dilma e aquele absurdo de 2002, para mim o mais cru exemplo de péssimo jornalismo com preconceito. Um abraço.

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  3. Análise correta. A vitória do PT já foi significante até aqui. Para se ter uma idéia, em MInas, ele e a base aliada já venceu o governo estadual (aécio) em quase 70% das cidades polos. Na regional de São João Del Rei, venceu em 17 dos 22 municípios que a compõe. e por aí afora. Cresceu mais de 4% na votação nacional. A mídia esconderá isso de toda forma, mas o PT cresce, em suma. E é o único partido brasileiro que tem seguro os 30/35% de votação, aconteça o que acontecer. O nome disso é trabalho. Coisa que os partidos de elite não conhecem, e vão desaparecendo sem saber por que. O DEM anunciou que varreria o PT do país em 5 anos. Quem é mesmo o DEM hoje?

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  4. Obrigado por seu comentário. O DEM não é nada e o PSB está por provar-se no cenário nacional fora das províncias. Eduardo Campos, às vezes, parece subir no salto. Aécio está por provar seu " controle" sobre Minas e pode ser um abraço de afogado. NO fim, creio que Campos é mais inteligente: sabe que este debate passa por Dilma e Lula e não pelo PSDB. Mas nunca se sabe, não é? Arraes entendia mais que o neto disso.

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  5. Faltou uma análise do Sul de Minas professor... no mais, concordo integralmente. Por aqui, Varginha uma cidade administrada a 12 anos pelo PT foi derrotada pelo projeto tucano (com direito a visitas de Aécio e Anastásia), por outro lado, o PT reelegeu o prefeito de Pouso Alegre e pela primeira vez governará Poços de Caldas, a maior cidade sul mineira. Abraço, Rafael

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  6. Pois é Rafael. Tenho menos informações daí mas sei do desgaste do PT em varginha. Mas veja: em linhas gerais, Aécio patina e o PT cresce. O estado emergiu dividido e o ex-governador terá problemas á sua volta. Por mim ...
    Um abraço

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