A eleição municipal passou, ou pelo menos seu primeiro turno. Este pleito foi eivado, por todo o país, de dúvidas quanto ao impacto da ação 470, de uma derrocada do PT e seus aliados, de uma revanche da oposição, do surgimento de novas lideranças. Ledo engano. Senão vejamos:
- confundir eleições municipais com o cenário nacional vem sendo um equívoco repetido ano após ano. Se existe apoio de liderança nacional a um candidato(a) este subsiste pela força do apoiador, não pelo temário político mais geral;
- como correlato, esperar que a ação 470 se manifestasse como deus ex machina e favorecesse a oposição ao PT era um desejo ... e só. Foi somente isso mesmo;
- urnas abertas e o PT permanece sendo o único partido que, ao longo de sua trajetória, continua mantendo o crescimento no número de cidades que administra. Já o DEM (em particular) e o PSDB precisam refletir sobre suas ações e equívocos. Em Curitiba a paróquia tucana expulsou Fruet do quadro e, como prêmio, ficou fora do segundo turno. Para o PT, duas derrotas importantes: o desastre Humberto Costa e em Porto Alegre. Em Recife perde pelos percalços de sua aliança, em Porto para o PDT. Detalhe importante: nada de PSDB ou DEM com relevância neste quadro.
- não é somente isso. Aumentou o número de eleitores enquanto o PSDB, se perder em São Paulo, aumentará sua frustração;
- Belo Horizonte é uma vitória de Aécio? Em termos. Marcio Lacerda é uma criatura sua e de Pimentel. Imagino como o PT de lá lamenta agora. E Patrus até ameaçou no final ... Mesmo sendo apoiado pelo ex-governador, Márcio é do PSB. E, para mostrar a complexidade da questão em relação ao papel do ex-governador, seus interesses foram contrariados nos maiores colégios do Estado - Uberlândia, Juiz de Fora, Governador Valadares, talvez em Montes Claros, em Uberaba, em Contagem, Ipatinga ... e na sua cidade natal, S.João de Rey onde o PT venceu. Ah, sim, ele apoiou o vencedor em Betim.
- O PSB indubitavelmente cresceu, e tornou Eduardo Campos o interesse da vez. O ex´presidente Cardoso já declarou a necessidade de se aproximar dele. O senso de oportunidade de Cardoso anda um tanto fora de sintonia, uma vez que esta declaração apoiando os "socialistas" foi muito rápida. Aécio corteja Campos há meses. O quadro é difícil porque Campos diz apoiar Dilma na reeleição e o PSB ser um partido importante da base. Márcio Lacerda recebeu algumas pressões e agora o apoio do PSB ao PT em São Paulo deve estar claro. Ah sim e Campos tem projeto próprio para 2018;
- Lula, que é defenestrado ao inferno por muitos (do lixo midiático, mas também por Ferreira Gullar), de certa forma fez duas apostas difíceis: Recife, onde claramente perdeu, e Belo Horizonte, onde perde em parte. Em BH, entretanto, Lacerda esteve sempre perto dos 50%, já Patrus cresceu de forma consistente durante a campanha. Mas, fora isso, ajudar a empurrar Haddad ladeira acima foi uma demonstração de força, mesmo com os mérito do candidato. E existem casos interessantes no interior: como Haddad, Marcio Pochman, professor da UNICAMP e ex-presidente do IPEA, estreou em um pleito e foi ao segundo turno em Campinas, enfrentando lá o PSB. Lula também incentivou e passeou por lá.
- Já no Rio, que me desculpem meus amigos, Paes foi passear na eleição mesmo com todos os seus defeitos, alguns muito nítidos. Freixo apresentou-se como liderança. Esperemos que não faça como Marina Silva, a "vitoriosa" (para a imprensa e os neoverdes de plantão) na eleição presidencial passada que virou suco no liquidificador da política brasileira e foi reduzida à dimensão eleitoral que tem.
- São Paulo terá a "mãe de todas as batalhas". Aqui se digladiam os pares dicotômicos da política nacional e onde o PSDB trava uma luta sobre si mesmo. Serra novamente, com 45% de rejeição e 31% do eleitorado contra os 15% de rejeição de Haddad e 30% do eleitorado. No jogo entram Russomano, com sua fluida base de apoio que "derreteu" na campanha, e Chalita. Soninha e Paulinho onde sempre estiveram: com nada e coisa alguma, ainda que Soninha seja Serra convicta e Paulinho ... sei lá. Aqui voltarão o mensalão (que não foi personagem no 1° turno), descalabros religiosos, grosserias nas ruas e a costumeira "cobertura" da imprensa paulistana. Se Haddad vencer, Lula, Dilma, Haddad e o PT em geral sairão ainda mais fortes - e o PSDB com mais feridas e com um projeto menor. Se Serra vencer ele pode abandonar a Prefeitura de novo em 2014 para seu voo presidencial (chocando-se com Aécio e, quem sabe, Alckmin). Mas, a cidade de São Paulo, que o rejeita tanto e que lhe impôs uma derrota nas cercanias de toda a cidade, permitirá sua vitória? Pode ser, o microcosmo paulistano diz muito ao imaginário político e jamais deve-se subestimar a política amigo/inimigo de Serra (quem sabe um leitor de Carl Schmidt?) ou a verve irônica e furiosa do PT (sua irresistível combinação de Maquiavel e Rousseau) que irrita seus adversários e incentiva seus defensores.
Escrever um dia depois tem seus riscos. Mas é um mero exercício em cenários onde muito se tem a dizer. Foi uma eleição de rupturas? De forma alguma. Com forças inovadoras? Certamente em alguns lugares, não na média geral. Foi mais um capítulo na rotinização da democracia, o que muitos odeiam.
Em breve publico mais um pouco sobre isso. Com pitadas provinciais ...
Caro Condé, só discordo de uma coisa. As eleições municipais, quando consideradas num quadro geral, dizem muito sim do cenário nacional. A força do Lula e do PT como partido permite que candidatos sem nenhuma história, em cidades médias e grandes, e eventualmente até em pequenas, surjam e disputem diretamente o poder. As eleições desse ano consolidam a força do PT como partido que se capilarizou, pois seu crescimento se deu sob fogo cerradíssimo da mídia. Isso é reflexo da política nacional e de sua identificação como partido popular, defensor das causas dos pobres.
ResponderExcluirGustavo, como vai? Minha posição é que o papel da liderança, neste caso,é mais forte que o partido, sendo o pano de fundo nacional pouco estimulador do voto geral exceto para eleitores muito "sintonizados". Concordo cm a capilaridade do PT, até porque o mencionado "fogo cerrado" da mídia foi tão intenso nessa como contra Dilma e aquele absurdo de 2002, para mim o mais cru exemplo de péssimo jornalismo com preconceito. Um abraço.
ResponderExcluirAnálise correta. A vitória do PT já foi significante até aqui. Para se ter uma idéia, em MInas, ele e a base aliada já venceu o governo estadual (aécio) em quase 70% das cidades polos. Na regional de São João Del Rei, venceu em 17 dos 22 municípios que a compõe. e por aí afora. Cresceu mais de 4% na votação nacional. A mídia esconderá isso de toda forma, mas o PT cresce, em suma. E é o único partido brasileiro que tem seguro os 30/35% de votação, aconteça o que acontecer. O nome disso é trabalho. Coisa que os partidos de elite não conhecem, e vão desaparecendo sem saber por que. O DEM anunciou que varreria o PT do país em 5 anos. Quem é mesmo o DEM hoje?
ResponderExcluirObrigado por seu comentário. O DEM não é nada e o PSB está por provar-se no cenário nacional fora das províncias. Eduardo Campos, às vezes, parece subir no salto. Aécio está por provar seu " controle" sobre Minas e pode ser um abraço de afogado. NO fim, creio que Campos é mais inteligente: sabe que este debate passa por Dilma e Lula e não pelo PSDB. Mas nunca se sabe, não é? Arraes entendia mais que o neto disso.
ResponderExcluirFaltou uma análise do Sul de Minas professor... no mais, concordo integralmente. Por aqui, Varginha uma cidade administrada a 12 anos pelo PT foi derrotada pelo projeto tucano (com direito a visitas de Aécio e Anastásia), por outro lado, o PT reelegeu o prefeito de Pouso Alegre e pela primeira vez governará Poços de Caldas, a maior cidade sul mineira. Abraço, Rafael
ResponderExcluirPois é Rafael. Tenho menos informações daí mas sei do desgaste do PT em varginha. Mas veja: em linhas gerais, Aécio patina e o PT cresce. O estado emergiu dividido e o ex-governador terá problemas á sua volta. Por mim ...
ResponderExcluirUm abraço