domingo, 28 de setembro de 2014

Para tudo acabar no dia 5 - OU NÃO!

     Pela segunda semana, a candidatura Dilma Roussef suspirou de satisfação. Todos os institutos mostraram seu crescimento, a regressão da sra. Silva e a estagnação do sr. Neves. O IBOPE havia encontrado Neves com 19% desde a semana passada - nos demais patinava em torno de 17%. Pela última "super amostra"do Datafolha - mais de 11000 entrevistas - se Dilma obter entre 5% e 6% dos indecisos ou da flutuação de votos que flui de Marina e podem abandonar Aécio, ela venceria no primeiro turno. Acontecerá? Muito difícil prever, eu particularmente não acredito, mas seria algo tão estrondoso que mereceria páginas e páginas de reflexão. 
     Senão vejamos. Dilma passou três dos seus quatro anos diante da mais implacável máquina midiática contrária ao seu governo, os levantamentos realizados em manchetes e chamadas de TV comprovam facilmente isso, caso do Manchetômetro como pode ser visto aqui. A menos que os delirantes acreditem que este site, oriundo de um grupo de pesquisa do IESP seja formado por membros do comitê de Dilma ou "comunistas mentirosos", o implacável cerco seria sinal claro dos seus problemas em se reeleger. Lula havia enfrentado cerco semelhante, mas parece que com Dilma a loucura da mídia desenvolve requintes de crueldade. E a presidente começou afagando esses meios, defendendo a imprensa, sem nunca enfrentar fortemente seus detratores. Entendo ... mas não aceito como argumento que um setor da sociedade que afeta milhões de pessoas possa se comportar como partido de oposição e que, no Brasil, o dispositivo constitucional que trata da concentração de poder, bem como uma lei que garanta direito de resposta contra assassinato de reputações, não possam ser discutidos pela sociedade democrática.
    Com tudo isso, essa mídia parece incapaz de fornecer qualquer combustível para criar candidaturas de oposição ou alavancas opções. Vejamos o sr, Neves: é candidato há mais de um ano, elogiado pelo ex-presidente Fernando Henrique (que horas ele aparecerá na TV?), com cobertura favorável. Seja por ser uma personalidade limítrofe, seja quase por não ter nome próprio, seja pela força que a imprensa lhe confere, este parece estar navegando em águas revoltas e contra a maré. Desafio qualquer eleitor a apresentar três, apenas três, ideias ORIGINAIS do candidato Neves. Não valem as ideias que ele tira de realizações dos últimos governos de Lula e Dilma. Difícil? Imposssível: comportar-se como coroinha anti-corrupção e detentor de "medidas impopulares" não facilita ninguém. Que fazer com um candidato assim? Apenas ser o anti-PT? Para seus eleitores, todos os 17%, sim. Felizmente o Brasil é muito maior que isso.
     A sra. Silva parece carecer de mais problemas. Da mesma forma, vale o desafio das três ideias originais, mas de sua lavra. Não valem declarações dos doutores Gianetti e Rands sobre choques ortodoxos e Banco Central. Marina não é isso, ela repete isso! Sobre "originalidade" é melhor ouvi-la pregando, como aqui, onde o discurso é repetitivo, lido ou balbuciado e com um certo ar messiânico. O que ela pensa sinceramente sobre política externa? Sobre as grandes obras de infra-estrutura? Sobre política social? Ou mesmo sobre a Amazônia? Suas ida se vindas de acordo com a conveniência são piadas circulando na internet. Qual segurança ela transmite? Com tudo isso, ela permanece em torno de 27%. Existem aqui vários componentes: ódio ao PT, a comoção pelo trágico desaparecimento de Campos e uma difusa defesa da mudança e da anti-política. Há eleitores para este discurso, alguns já abandonaram Neves em nome dele, alguns abandonaram Dilma, outros a sra. Silva trouxe do baú de sua última candidatura.
     Dilma, por sua vez, tem um governo para mostrar. Sim, mostrar agora, porque a mídia lhe negou isso durante todo o tempo. Tem também políticas sociais e ações, tem o Brasil que se livrou da fome (segundo a FAO), tem programas em educação e saúde. Ela parte de um patamar melhor. Não precisa pregar ou gritar impropérios, como um Carlos Lacerda sem a mesma retórica ou inteligência; não precisa apelar à providência (ou ao Gianetti) para encontrar inspiração. 
   A mensagem da semana, se observarmos a campanha, é de mudança mas também de muita continuidade. Nas ruas, campanha insossa, na internet com as disputas de sempre nos grupos de sempre, na mídia permanece a fabricação de versões sem fatos. Nas pesquisas, Dilma cresceu além da margem, voltando ao patamar de 40% que é próximo do máximo que atingiu ao longo de quase um ano de levantamentos. A boa notícia para ela é que subiu consistentemente e o gráfico de sua evolução tornou-se uma "boca de jacaré", com o maxilar superior subindo e o inferior apontando para baixo. 
    Em um cenário desdramatizado nas ruas, um certo enfado com a campanha, o eleitor parece também um pouco cansado com o desenrolar desses dias. Para ouvir Neves, de cada 10 palavras em uma frase usar o PT algo como 7 vezes; para ouvir Marina ir e vir (e se decepcionar com sua tibieza) ou ouvir Dilma que diz que vai mudar mais, é compreensível uma certa impaciência. Melhor para Dilma, nesse caso. Está na frente, conta com o apoio de Lula, tem fatos a mostrar. Seu eleitorado, de alguma forma migrante para outro projeto quando surgiu a sra. Silva, voltou - e voltou quase todo, observemos, bem como a rejeição dos demais subiu. Uma leve olhada no histórico das pesquisas IBOPE ou Datafolha em 2014 mostra que o sr. Neves chegou a 21% - 22%. Com sua exposição atual, diária, na mídia e com retrato nas ruas, ele tem 17% - 19% hoje nos mesmos institutos. Crescimento? Nenhum importante. Foi a sra. Silva que o derrubou? Em parte foi, roubando eleitores. Mas a campanha que o PSDB faz não é somente sofrível - o candidato também o é. Crise de identidade: alçado à presidência como ministro de Itamar, Fernando Henrique não pode aparecer nas campanhas e terminou seu mandato de forma melancólica. Que fazer com o condomínio PSDB/DEM/PPS se não existe projeto nenhum para o pais ou para apresentar decentemente ao eleitorado? Terrorismo econômico e moralismo pós-udenista é muito pouco. 
     A sra. Silva chegou a 20% do eleitorado em 2010 e despontou como promessa. Em 4 anos não foi capaz de formar o partido que queria e nunca participou de momentos decisivos do debate nacional nesse mesmo período. Nada, nenhuma ideia. Por que não discutiu antes seus projetos neoliberais de ajuste estrutural e independência plena do BC? Por que não participou do debate sobre democratização e crise de representação pós junho/2013? 
     Por isso Dilma recuperou suas perdas e até pode, mesmo que eu não acredite muito, vencer no primeiro turno. Menos ambiguidade, menos insegurança para a população, mantém a rota de mudança iniciada com Lula. É isso. O resto são seus detratores: o mercado financeiro e os bancos privados - logo eles, que foram afagados esses anos; a elite econômica economicida e contra "gente diferenciada"; a mídia que se comporta sem escrúpulos e irremediavelmente irresponsável, militares de pijama saudosos de sabe-se lá o que. Mas há também um grupo de cidadãos que quer ser ouvido e considera seu governo com problemas, a precisar esclarecer ações, um grupo de pessoas que emergiu e quer mais, uma geração nova. Esses merecem respeito e ações. Cabe ao governo atual entender isso e ouvir a sociedade, que mais deseja manter seu desenvolvimento que voltar ao passado. O sr. Neves não entendeu isso, ainda que tenha boas chances de ir ao segundo turno; a sra. Silva entendeu, mas parece não ter respondido a altura. Será que esse eleitorado passou a acreditar que com Dilma  o caminho é mais seguro? Se ela encerrar o próximo domingo sem a segunda rodada, temos a resposta. Se ela não o fizer, o embate vai para um segundo turno onde o tema será, mesmo indiretamente, essa nova geração que chegou e até influencia seus pais.

(Este tema de uma nova geração é apaixonante. Escreverei sobre isso essa semana).

    

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