quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sobre a campanha desdramatizada nas ruas e a agenda não debatida

     Eleições deveriam ser momentos de intensa mobilização, clamores e desesperos. Pelo menos é assim que alguns imaginam, ainda mais quando é a chefia do executivo federal que está em disputa. Que temos? Um cenário de desdramatização. Sem nenhum juízo de valor, alguém poderia me apontar onde reside o formidável interesse do eleitorado pelo processo? As estatísticas de audiência do passado indicam que, na TV, o público atinge seu auge antes da última semana, na verdade a última semana até apresenta declínio de audiência. Toda a história mostra como  o número de indecisos vai declinando gradativamente ao longo do tempo e a afirmação sobre não mais mudar sua escolha vai se consolidando. A espontânea vai se aproximando da estimulada e, voilà, chega o dia. Em nome do fim dos abusos, o congresso e a impoluta justiça limitam as ações e a campanha parece uma daquelas quermesses de igreja nas pequenas cidades onde a arrecadação empata com o investimento, sem que ninguém consiga sair feliz com os prêmios que ganha com a espingarda de ar comprimido. É assim: sem rua, sem entusiasmo, militância paga e com uma agenda tão confusa quanto sermão pentecostal e homilia para a renovação carismática.
     Convenhamos? Campanha insuportável ... . A última estupenda asneira foi um candidato tucano de SP tentando proibir a cor das ciclovias na cidade, elas seriam "petistas". Foi preciso a justiça dizer ao asno - e não tão asno - que existe uma padronização nessa prática. Outra bizarrice é um pastor neoliberal que não diz coisa alguma, um candidato que entra na justiça (sempre ela) contra tuites e a impoluta Marina que quer retirar um site de apoio a presidente Dilma do ar. No último caso, a justiça (de novo ela) acatou alegremente. Como se não fosse suficiente a cada dia somos brindados com pesquisas que nos fazem pensar: como o IBOPE encontrou variação positiva de Aécio sobre Dilma e Marina? Atenção: sou amplamente favorável que pesquisas sejam divulgadas sem a tutela da justiça (sempre ela), com a estultice de registros que não servem para nada.  Mas não é possível que não seja possível tentar compreender o campo quase idêntico do IBOPE e da Vox, metodologias muito próximas, com resultados parecidos, pero no mucho. Eu , na verdade, não compreendo muito o porquê da variação de Aécio além da margem a não ser que ele tenha recuperado muitos pontos em Minas e crescido em São Paulo ou talvez, no sul. Esta é a única explicação e que pode significar, por sua vez, que ele chegou ao seu limite. Com o arsenal moralista e conservador que sua campanha ganhou, Dilma parece, segundo o IBOPE, ter sofrido mais que Marina, no caso. É um pouco surpreendente, ainda mais porque a avaliação do governo é a mesma e a rejeição não se alterou. Esperemos que a semana possa clarear isso mas, por enquanto, vazam ao "mercado" resultados falsos ou verdadeiros e o pregão flutua - e tome ganhos de realização. 
     Quando esperava-se que as surpresas negativas parassem um pouco, eis que aparece mais um economista de Marina. O estupendo exemplar da imprensa livre, o baluarte da família Marinho entre as letras, o Globo, publicou declarações desse senhor Rands dizendo barbaridades deselegantes e reafirmando a ortodoxia. Ninguém sabe exatamente quem ele é, mas ganhou notoriedade porque é um dos economistas desse negativamente surpreendente PSB (ou rede). E, para completar a bizarrice, Marina diz que pretende "mexer"na CLT???? E cita o Gianetti, que estaria estudando isso, porque ainda não sabe direito como fazer? Encerrou o episódio pré-sal, tripé e BC independente - temas os quais ninguém compreendeu direito como seria -  e agora é a CLT? Se o eleitorado prestar atenção em Marina, ouvir o que diz e observar a voz rouca dos seus economistas foge dali pelo cheiro de enxofre. 
     Citei que as pessoas deveriam ouvir Marina, prestar atenção não em seu choro, mas nas declarações de idas e vindas e frases sem sentido. Mas não: parece que uma parte importante do eleitorado não quer ouvir. Segue apenas preferindo. Não vai às ruas, não vai aos comícios (que a justiça ajudou a liquidar), não pode rir na internet (Aécio e Marina censuram). Resta desdramatizar as ruas e esperar que as pessoas votem em promessa vagas, candidatos filtrados pela TV . Nesta eleição temos muitos temas mas, paradoxalmente, nenhum é tão importante que mereça tanto destaque assim. Hora resvala-se para a veia udenista, do apontar o dedo, da calúnia; hora para a loucura vaga. O caso de SP é exemplar: discute-se ciclovia, com a turma da alta renda de alguns bairros chamando de delírio autoritário de prefeito "vermelho". Ao mesmo tempo o eleitor toma água com metais pesados do tal volume morto e isso não é grave? A policia do governador, mais uma vez, dá mostras da truculência descontrolada, mas muitos aplaudem porque os vagabundos invadiram prédios abandonados. E isso tudo se mistura com a eleição presidencial, produzindo uma confusa salada de frutas.
     Como a mídia não quer debater nada relevante, mas agarrar-se à sua versão - e não aos fatos - continua o festival de negatividades. No programa de Dilma na tv houve um momento exemplar, acho que no segundo dia: uma apresentação das obras que ocorrem no país e como elas são escondidas do eleitor comum pela imprensa. Seria muito bom para sua campanha que coisas assim bombardeassem o espectro eletromagnético, mostrando ainda sessões sobre s programas sociais, a redução da desigualdade, as mudanças educacionais. Uma agenda positiva com bombardeio midiático. Importar-se com o esganiçado Aécio e suas denúncias udenistas, parece ter muito menos importância pois ele é a contradição viva: nós esquecemos o aeroporto de sua família, os 90.000 sem emprego colocados para fora do governo de Minas, sobre seu bafômetro ou o mensalão mineiro, alguns temas que Luciana Genro - e não Dima - recordaram a ele em um debate?  Por sua vez, Marina, que parece perder-se por si própria quando fala, deve ser mostrada como é: vazia e sem liderança. Dilma tem um programa cm tempo enorme: 70% dele precisa mostrar o que sonegaram de informação, 30% deveria desconstruir adversários comparando com o que aconteceu em seu governo. Nunca é demais lembrar: o país conhece a presidente e precisa conhecer o que aconteceu, sua agenda positiva; quem precisa mostrar serviço são Neves e Silva. E eles mostram muito pouco - denúncias e ideias vagas. Enquanto isso, o eleitorado segue sua vida um pouco sem olhar para 5 de outubro.
     A campanha vai caminhando para suas duas últimas semanas e talvez, somente talvez, melhore em entusiasmo. Nem adesivos existem muitos- fora os SUVs e importados alemães entusiastas de Aécio. Candidatos nas ruas? Todo dia, mas sempre parece tudo um pouco esvaziado. Sao os próximos 4 anos que virão, mas isso não parece estar sendo um argumento muito considerado. E não é que na internet ela não esteja dramática: está, mas onde sempre esteve e nos mesmos grupos. Sob um eleitorado de mais de 100 milhões de pessoas não são esses grupos que pautam o eleitorado de forma decisiva.
     No fundo, ao meu juízo, existem grandes debates que precisam ser afirmados: o primeiro, a queda contínua e recente da desigualdade; segundo, um padrão de desenvolvimento para o país e, terceiro, a expansão do sistema de proteção social pari passu o desenvolvimento e o crescimento da economia (o que implica também na agenda ambiental) e o quarto o tema das liberdades - como casamento homoafetivo e congêneres mas também a democratização da mídia. E eles não estão sendo feitos por nenhum dos candidatos de forma explícita e didática.
     É isso. O resultado é da democracia. É preciso lembrar que campanha também é.

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