sábado, 25 de outubro de 2014

Um balanço do processo eleitoral 24 horas antes: a caminho da vitória ou de um Brasil menor

As eleições terão a abertura das urnas em menos de 24 horas. Mas elas começaram tem muito tempo, na verdade há 12 anos atrás. A vitória de Lula foi um dos maiores marcos da democracia brasileira não somente pelo fato em si, mas por tratar-se de um líder da democratização, liderança operária, fundador de partido e central sindical e dotado de uma enorme sensibilidade politica e social. A trajetória percorrida por seu governo, após dois anos iniciais engessados pela presença de ministros como Palocci e seu par do Banco Central, propiciou uma extraordinária mudança de rumo na política social, na inclusão, no emprego, na renda, Que os tucanos e sua trupe não o reconheçam é do seu jogo; que torçam e se ocultem atrás da mitologia na qual acreditam não é uma surpresa. Estou pouco me importando para o que acreditam, pois o fato é que o Brasil mudou, independente do ranger de dentes e dos discursos udenistas. E não foi porque o governo criou consumidores e não cidadãos, interpretação bastarda incapaz de reconhecer que o fim da fome, o incremento de renda e direitos tem efeito sobre a cidadania. Foi isso que propiciou a vitória de Dilma em 2010 e hoje, de novo, vai conduzindo-a à vitória.
Esta foi uma campanha das mais duras. O primeiro turno foi desdramatizado, pouco afeito a grandes movimentos, marcado pela ascensão de uma candidata fraca e pouco expressiva, que ingressou no debate nos termos do rentismo, do neoliberalismo, de uma confusa junção de crença religiosa e sustentabilidade ambiental. Tudo isso em um coletivo deu naquilo que sabemos: o desmonte diante do debate politico. A adesão da candidata ao campo da oposição a colocou exatamente na hora e local do embate entre os projetos em disputa - ela estava ao lado de Aécio como o segundo turno comprovou.
O segundo turno foi uma batalha entre os dois projetos, que certas leituras mencionam como distantes do Brasil real e insatisfeito. Nada mais equivocado:  o eleitor sabe exatamente o que está em jogo, de ambos os lados; e os eleitores escolhem lado. Se criticam as instituições, escolhem lado  - e agora; se não se sentem representados também escolhem lado - e agora. Portanto o Brasil se encontra nas eleições.
Não é segredo que não voto em Aécio e não acredito em sua vitória. Nunca acreditei. Mas "acreditar" é pouco. sempre o vi como limítrofe, sem imaginação e sem liderança. Péssimo governador, legou uma enorme dívida, uma educação pífia, uma saúde sofrível, uma mídia controlada. Sem contar aeroportos e publicidade em rádios familiares. Vamos debater corrupção? Claro: mas isso significa discutir sobre quais instituições a devem coibir e com que aparato, com qual gestão, com qual estrutura. E sempre será necessário investigar, deter, julgar, permitir o contraditório, condenar e prender , se for o caso. O resto é campanha. Campanha que o PSDB, diante do indefensável governo FHC e da gestão pífia de Minas, centrou no tema da corrupção, ignorando tantos outros temas caros ao Brasil. É muito pouco para se debater o país, mesmo que o tema mereça toda a atenção.
Veio a tona o pior. Colunistas da grande mídia pregando golpe, passearas iradas, pessoas de branco rasgando seu código de ética, camisas negras com fundo azul em bandos, discursos de ódio, e, me perdoem os sensíveis, muito mais da classe média tradicional ressentida, da elite incomodada, da imprensa sempre buscando seus interesses e também de cidadãos insatisfeitos com o PT, legitimamente e sem truculência apoiando Aécio. Mas a truculência de quem apoia Aécio tornar-se-á lendária. Bem como as memoráveis manobras do pior lixo da mídia brasileira,que é a revista veja (e a IstoÉ, o globo, a folha, o estadão, o estado de minas ou o zero hora). Se tudo vale, com frases soltas, ilações e sem aúdio, quem mais ameaça a democracia?
Nesse momento não há mais muito a dizer. Passei mais de 15 dias dizendo que Dilma venceria. Por que? A expansão de Aécio ao fim do primeiro turno s esgotara, Dilma melhoraria em estados-chave, a comparação a seu favor com relação ao governo é muito forte e tem a ação em si das ruas. Isso deve ser mais que suficiente para abrir de 4 a 5 pontos de vantagem.
Finalmente, a campanha de rua foi extraordinária no segundo turno. Boa parte da esquerda se reencontrou, os eleitores se identificaram muito mais a Dilma, a dramatização atingiu níveis importantes para a mobilização e o PT fez enormes comícios. É isso, em se confirmando a vitória de Dilma, um grande legado,  como se dissessem "estamos de volta". Tenho certeza que Dilma entendeu o recado. É hora de virar, dar passos adiante para políticas de inclusão ainda mais ousadas. Abandonar qualquer ilusão de "rede de proteção social", o que determina políticas sociais compensatórias e para longe da universalização de serviços; desenvolver mecanismos de democratização!ao da mídia pela regulamentação do dispositivo constitucional sobre a propriedade dos meios de comunicação e com relação a uma legislação por direito de resposta; uma política ativa de emprego, aproximando políticas sociais e emprego de qualidade com formação adequada; valorização dos mecanismos de ação econômica de fortalecimento do setor público e dos bancos públicos como agentes do desenvolvimento; incentivo aos mecanismos de participação e aos arranjos de concertação com a sociedade civil e o desenvolvimento de uma agenda ambiental que permita avanços no diálogo crescimento/sustentabilidade, acoplando este debate ao nível de emprego e de qualidade de vida com projetos locais de desenvolvimento. Sei que isso representa um programa, mas nós já começamos.
Nada detém a primavera. Interferir na democracia de forma a distorcer fatos, como desejam a veja ou a globo, não importa agora. Loucuras corporativas anti-pobres também não. Hostes proto-fascistas não podem e não vão pautar eleitores. A serenidade da vitória se constrói no dia a dia e cm a certeza de que muito foi feito e muito ainda será feito. Apesar de Aécio, do PSDB, do DEM, do PPS, de parte do PMDB, mas sobretudo apesar de quem acredita que o Brasil pode voltar atrás. Grupos e pessoas na oposição - claro que não todos, claro que não os eleitores mais inteligentes de Aécio -  precisam compreender que o Brasil mudou e já é hora de aceitar isso incondicionalmente e sem se refugiar em vagos discursos elaborados.
Até a vitória. Direita: no pasarán.
Dilma 13 é a opção para o Brasil. Não se exige menos que a vitória.

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